22 de novembro de 2005

O filho da Dona Odaléia


Deram pra chamar técnico de futebol de professor.
Se é pra ser assim, eu vou lhes revelar o meu professor preferido.
A Dona Odaléia teve um filho. Pelo menos um, que eu sei, nascido no Rio de Janeiro, longe da terra do pai. Este de um lugar que vocês logo vão saber.

Por força da vida, o pai deixou o menino aos cuidados dos padrinhos Diná e Xavier, os quais ensinaram a ele muitas coisas. Coisas boas, é claro, que ensinar porcaria é tarefa dos tios. Às vezes, os ensinamentos pareciam proibições e vai até que eram mesmo, mas o filho da Dona Odaléia guardou todinhos, um por um, que bobo ele não era, e qualquer ensinamento pode ter serventia:
Mamãe não quer... não faça
Papai diz não... não fale
Vovó ralhou... se cale
Vovô gritou... não ande
Placas de rua... não corra
Placas no verde... não pise
No luminoso... não fume
Olha o hospital... silêncio
Sinal vermelho... não siga
Setas de mão... não vire

Mas, lá pelas tantas, o moleque aprendeu: em certos momentos da vida, é preciso quase transgredir, para não ser engolido pelo mundo. O pequeno da Dona Odaléia registrou a lição assim na memória:
Vá sempre em frente, nem pense "É contramão."

Breque, pra reflexão. Quando se avança, não há contramão, que contramão não é avanço, é retrocesso. E seguiu em frente o menino, aprendendo e ensinando, com um doce toque de teimosia, que a vida é bonita, é bonita e é bonita.

Desde sábado venho lembrando do filho da Dona Odaléia. Ele deixou o caminho para a felicidade, que pode vir no sábado, lá na terra do pai dele. É só seguir a receita:
Olha cama de gato,
olha a garra dele.
É cama de gato,
melhor se cuidar:
no campo do adversário,
é bom jogar com muita calma,
procurando pela brecha,
pra poder ganhar.

Acalma a bola, rola a bola,
toca a bola, limpa a bola
que é preciso faturar.
E esse jogo tá um osso,
é um angu que tem caroço,
é preciso desembolar.
E se por baixo não tá dando,
é melhor tentar por cima.
Oi! Com a cabeça dá.

No sábado, lá em Pernambuco, terra de Luiz Gonzaga, o pai, é preciso que Mano Menezes continue seguindo as lições simples do Professor Gonzaguinha, o filho. O Grêmio precisa seguir em frente e não ter a vergonha de ser feliz, porque sábado não tem contramão.