20 de junho de 2007

Tudo nas mãos da história


Iotti

Está para ser escrita uma das mais emocionantes páginas no livro do futebol mundial. É hoje a noite ou, no máximo, no início da quinta-feira. Já seria suficiente motivo de orgulho para um time sagrar-se campeão naquela que a imprensa da América chamou "La final de las finales". Antes mesmo de iniciar, esta já era reconhecida como a maior de todas as finais da Copa Libertadores.

Mas será mais, será muito mais do que orgulho. O jogo eclodirá como um momento épico, transformando-se, numa lufada de tempo, em lenda inesquecível: a lenda de um time de futebol que, embalado pelo canto do seu povo, parou a roda do destino para alterar uma sina dada como inevitável por quase um mundo todo. Será um feito grandioso, dos maiores de que se têm notícia. Algo para marcar a memória das pessoas por uma vida inteira e, talvez, um pouco além.

Anos adiante, quem a tudo presenciou poderá dizer com indisfarçavel orgulho: "Grêmio e Boca? Eu estive lá." E será olhado com não menos do que admiração, curiosidade e reverência. O fato já existe no imaginário, embora esteja ainda em um lugar do futuro.

Logo mais surgirá o campeão. Um dos grandes romperá o casulo do tempo ungido pelo óleo da vitória.

Ah, a vitória!
Ela será inexoravelmente contada, como sempre em futebol, pelo detalhe, pelas contingências, pela bola caprichosa, pelo relógio que muda o compasso, sempre em oposição aos nossos desejos. Por tudo isso e por tudo que o jogo representa, parece justo que as coisas sejam postas nas mãos da história. É ela quem deve comandar o enredo, é ela quem deve traçar o caminho do embate.

Estando tudo a ela entregue, e ainda mais as nossas melhores certezas, não terá coragem de mutilar-se, apagando de si mesma a mais real de todas as lendas: a lenda do Imortal e da sua apaixonada torcida.

Assim será: a história escreverá mais um capítulo da sua autobiografia e o Grêmio vai amanhecer Tri-campeão.