19 de junho de 2007

Zugzwang



Tuta jogou na Bombonera, mas não jogou. Vejam se me faço entender: Tuta esteve em campo, mas não teve a participação que dele se esperava no jogo. Ele era peça fundamental na estratégia montada por Mano Menezes para Buenos Aires. Pelo menos foi o que eu entendi, vendo os movimentos inicias do jogo. Existe um caminho arborizado e com asfalto, capaz de levar o Grêmio ao podium na quarta-feira e é o caminho que Mano pretendeu trilhar na Bombonera, para obter um resultado favorável. O caminho tem nome e sobrenome: Mauricio Ariel Caranta, o goleiro do Boca.

No início da partida de ida, Sandro Goiano chutou, Tcheco chutou, quem pode chutou. Até Saja, se tivesse oportunidade, teria chutado. Ninguém acertou o alvo. Fosse a bola direta para as redes, melhor, mas a intenção era que, na pior da hipóteses, ela tomasse a direção de Caranta. Era aí, no bate-roupa do goleiro portenho, que Tuta fazia sentido na estratégia do Grêmio: um centroavante forte, de presença na área e capaz de brigar com os zagueiros pelo rebote. A bola nunca tomou a direção planejada no vestiário, até quase o final do jogo, quando Lucas desferiu seu chute a gol. No rebote de Caranta, Tuta não estava mais e Diego Souza desperdiçou a grande oportunidade de colocar o placar em 2 x 1, a três minutos do apito final.
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O Xadrez tomou emprestado da língua alemã o termo zugzwang. A palavra tem o significado da derrota pela obrigação de jogar. Um lado se encontra em zugzwang, ou simplesmente em zug, quando qualquer movimento que faça o levará a perder posição, peças e, por fim, a partida. O desafio do Grêmio amanhã é colocar o Boca em zug perpétuo. Desde o início da partida o Boca deve ser levado a entender que, faça o que fizer, seu exército diminui, suas peças se enfraquecem e o xeque-mate é inevitável. A equipe argentina tem que sentir um pesar profundo por ter cruzado com o Tricolor Imortal.

Ao Boca, não deverá ser dada campo para jogar ou tempo para pensar. Ao Boca só deve ser permitido conceder rebotes, vindos diretamente das mãos e do peito de Caranta para Tuta, para Carlos Eduardo, para Diego Souza, para Lucas, para Tcheco, para Lúcio, para Patrício (zug total) e até para Saja, se preciso for. O time precisa produzir uma enxurrada permanente de bolas vindas por cima, por baixo, de perto, de longe e de todas as direções. Os únicos momentos de paz do Boca devem ser quando algum jogador leva a bola para o centro do campo para recomeçar a partida, enquanto a torcida comemora mais um gol na arquibancada.

Assim vejo o jogo e o caminho do Tri: zugzwang forçado nos xeneize, sem oferta cavalheiresca de derrota honrosa. Existe um papel de coadjuvante na página que será escrita na quarta-feira. Que toque ao Boca aquele papel.