1 de dezembro de 2009

A pele do Duda

Em uma clássica história de dilema ético, há um acidente com um barco. Você e um amigo decidem nadar até a costa para buscar socorro. Enquanto nadam, você percebe que seu amigo está perdendo as forças e se afogando. Você sabe que se ajudá-lo não terá forças para chegar à praia e conseguir resgate para as pessoas do barco. Você larga seu amigo ou não o abandona? Persiste em ajudá-lo, sob o risco de morrerem os dois e todos os passageiros do barco?
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Temos aqui criticado o presidente Duda e o Diretor de Futebol Meira pelos resultados pífios que alcançaram em 2009, muito em função do despreparo que demonstram para o cargo. Isto não significa que nutramos algum sentimento automático de reprovação a eles. Não. As críticas são proporcionais aos resultados da sua gestão. Ponto.
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Este preâmbulo é apenas para dizer que, se Duda vem fazendo uma má gestão isto não significa que não saibamos avaliar o momento angustiante pelo qual está passando. Ninguém haverá de querer estar na pele do Duda.
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O ideal seria que a vida tivesse corrido seu curso. Acabado o jogo com o Barueri, toda e qualquer referência à próxima e última rodada deveria ter sido afastada, com o argumento de que havia toda uma semana para se falar sobre ela e o Grêmio desejava celebrar uma temporada inteira de invencibilidade. Na segunda-feira, folga geral e telefones desligados. Seria ganho, assim, dia e meio para pensar o que falar, como agir. Alguns, porém, correram a acender os holofotes. Cederam à tentação dos microfones, sempre ávidos por declarações fora de lugar. Pelos microfones precipitou-se a publicidade do dilema.
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Voltemos, então à nossa estória. No caso presente não é um amigo quem nada ao seu lado. É um morango, com todas as implicações que o ser morango carrega. Salvando-o, quem morre é você. Deixando-o morrer (preferencialmente na praia), você terá a visão paradisíaca de assisti-lo esbravejando no inferno das lamúrias. Contudo, a relação não se encerra entre vocês. Há uma platéia numerosa observando. E cada observador tem uma régua ética customizada, com a qual puxa brasas para determinada sardinha, desprezando, se necessário for, a ética.
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Vai ser uma longa semana, na qual o tempo se arrastará entre suposições e insinuações, desejos e sonhos. Para Duda, porém, o tempo vai andar ainda mais lento, como se ele estive embarcado numa espaçonave se movendo em velocidade próxima à da luz.
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Poderá ser uma semana de máscaras caídas. No domingo, os mesmos bla-bla-lhos e pífios que hoje esgrimam o discurso da dignidade (logo quem) serão os primeiros a exercitar suas ironias de quinta categoria e fazer chacotas, se no escurecer do dia o céu tiver desabado sobre nossas cabeças, como consequência de termos dobrado uma vez mais o Maracanã.
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Um alerta, porém há que ser feito: o destino prega muitas peças. Não se está livre de ver uma a mais grampeada nas primeiras páginas dos sites do próximo domingo. Só se fala em Flamengo e Grêmio, em titulares e reservas, em ética e dignidade. Será que um ilustre esquecido não irá subverter as pautas das redações? Será, senhoras e senhores, que o grupo se garante contra o poderoso Santo André?
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Como deve ser duro estar na pele de Duda Kroeff. É impensável um dirigente de clube ditar um ordem de derrota. Não há como fazer isso sem dilacerar a própria autoridade. Porém, é desesperador estimular tropas para o que se sabe ser uma vitória de Pirro. Barramos o Cruzeiro, derrubamos o São Paulo, detonamos o Palmeiras. Mais uma vitória como essas e Duda estará perdido.
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Não há quem possa desejar estar em sua pele, sendo condutor de um clube que pode salvar o centenário do rival, contra a expectativa avassaladora da sua própria torcida. Assim será, pelo menos até que o tempo avance um pouco além das 19 horas do dia 6 de dezembro de 2009.
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Tudo que se faça ou diga deve ser feito e dito com extremo critério. Não faltará quem queira aproveitar qualquer deslize para apontar armas contra o Imortal. Sempre foi assim e nunca será diferente. Boa sorte, Duda Kroeff.