24 de outubro de 2011

Assassinatos em série




A Culpa é do Grêmio II
















Volta o Felipe com a parte final.

Escombros e Demolição

Este tema, atualmente, deixa os morangos ainda mais amargos. Por isto, devemos confessar que nos apraz.
Não causam contentamento, entretanto, os prejuízos sofridos pelo interesse público. As estimativas são elásticas. Fala-se que a perda da Copa das Confederações privaria diferentes setores da economia do RS em valores que variariam dos 30 milhões a um quarto de bilhão. Também elásticas foram as perdas morais. O vexame de ver o RS preterido por estados de futebol incipiente, a atribuição de papel marginal, com a recepção de jogos que serão quase invisíveis. E, ainda, a ameaça nada impalpável de ver o Sul, simplesmente, banido da Copa do Mundo, na muito possível má e sintomática companhia do projeto paranaense dos petralhas.
Lembro, então, que este é um texto “post mortem”. Geralmente, quando é assim, olhamos só para o resultado, o escombro, mas é tão ou mais relevante reter o que ficou no caminho, a grande obra – inacabada – de demolição – e de auto-destruição - deixada por esta deprimente saga do SCI. Eles mataram a CC, mas o que morreu no caminho, para muitos, foi o “espetacularizado” mundo róseo, de falsidade limpidamente pura.
Este é o mundo em que toda mentira é verdade. Foi ele que o SCI não conseguiu suportar. Aí, a verdade, sempre relativa, sempre imperfeita, sempre uma versão, reapareceu como contraditório, mostrando que ainda existe.


A Ilusão do Protagonismo...e o Recalque do Falso Pobre

A promoção do dantesco e indecente espetáculo promovido pelo SCI, com o concurso de autoridades e isentos de sempre, suscitou em muita gente a lembrança do enlace histórico entre o falso e autodenominado “time do povo” e o poder de Estado. Alguns, com conhecimento de causa, baseados nisto, chegam a afirmar que o fracassado projeto de reforma própria “para sempre” do Beira Rio era só um pretexto para, ao longo do tempo, efetivá-lo com dinheiro público. E não é hipótese da qual se deva duvidar.
Não há aqui espaço, óbvio, para recuperar em extensão e detalhe a história do SCI. Fiquemos, por hora, só em fatos relevantes. Ironicamente, lembro que os Eucaliptos, que viraram capital micado do atual desmanche, foi, durante muito tempo, um estádio de “aluguel”.
O próprio site oficial do coirmão, ademais, é suficientemente revelador. Conta ele:

“Exatamente no ano em que estava terminando uma longa hegemonia do Inter no futebol gaúcho, 1956, começou a história da construção de um grande estádio, o Beira-Rio. No dia 12 de setembro de 1956, o vereador Ephraim Pinheiro Cabral, um homem do futebol, que por várias vezes presidiu o Inter, apresentou na Câmara de Porto Alegre o projeto de doação de uma área que seria aterrada no rio Guaíba. Na verdade o Inter estava ganhando era um terreno dentro da água. Só em 1959 o clube fincava as primeiras estacas do Beira-Rio”.
E mais:
“Na década de 60, uma época difícil para o Inter no futebol, o Beira-Rio, ironicamente chamado de Bóia Cativa parecia que jamais seria concluído. Cansados das derrotas do time nos Eucaliptos, ali pertinho, os torcedores saiam para ver as obras do novo estádio. A gente torcia por pedreiros, lembram os colorados daquele tempo.¨
Portanto, o encontro dos morangos com a realidade e a própria história não é alentador, ainda mais quando se trata de estádio. Da última vez que fizeram um, com a ajuda oficial, levaram a bagatela de dez anos. Pior quando essa história se prenuncia tragicamente como desenho de futuro. Longos treze anos de derrota antes do BR! E se não tivessem o apoio do poder público, ainda existiriam?

Talvez, como rival direto do Zequinha. Só que a sua inscrição na história, embora como falso protagonista, ainda seria garantida pelo paternalismo populista. É isto que nos lembra em detalhe o leitor Guilherme, em comentário feito no blog do Juca Kfouri, em 05/10/2012: entre 1956 e 2004, por atos sucessivos de concessão dos prefeitos Brizola, Célio Marques Fernandes, Thompson Flores e João Verle , o SCI incorporou, por generosas concessões feitas com o nosso dinheiro, inclusive de gremistas, mais de 30 hectares numa das mais valorizadas áreas da cidade, onde o clube movimenta toda sua série de negócios. Calma: o BR não é de aluguel!!! Estas posses, salvo engano, não são mais públicas. As mesmas autoridades que concederam, também tomaram as devidas providências para fazer deste patrimônio público, patrimônio privado do SCI. E, agora, natural que queiram uma ajudinha da viúva para as reformas de praxe!!!

E qual a razão do SCI ser beneficiário da mais grave das práticas viciadas da formação social e da política brasileira, a apropriação privada dos recursos públicos? O argumento populista que o “time do povo” deveria ser protegido, inclusive subsidiado, para que pudesse fazer frente ao time das “elites brancas”. E se não fosse assim, que deles restaria hoje?

De qualquer modo, assim como o argumento a favor do privilégio econômico se mostrou amplamente falso, do mesmo modo aconteceu com esta maledicência sobre os gremistas, já sobejamente desmentida em todos os levantamentos sobre perfis de torcidas do RS.


Os Mortos...Réquiem Para Eles!

Depois da entrada em – e fora de – campo das autoridades do Município, do Estado e da Federação, além da indefectível imprensa isenta, movidas, consciente ou inconscientemente, por aquele princípio reprovável de proteção e compensação, a lista de falecidos não parou mais de contar suas baixas:

  • Morreu a ficção encarnada de que o “time do povo” era “novo rico”. Desnudou-se a mentira segundo a qual o Inter é mantido por seus sócios. Tal como a sua história foi embalada pelo cabresto, ao fracassar no seu projeto próprio de receber a Copa, o SCI mostrou o que é: um generoso condomínio de empresários interessados em criar e vender jogadores para o resto do mundo, embalado pelo marketing do pseudo-jornalismo pago, recolhendo as migalhas desta intermediação na nova divisão internacional do trabalho do futebol, na qual os clubes brasileiros são só dependentes e coadjuvantes;
  • Morreu o invejado elitismo do colorado travestido de pobre, que repetidamente defendeu – veja-se só! – a Copa no “seu” estádio, de doação pública, porque este se localiza numa “área nobre”. Este caso é ainda mais grave, porque, na verdade, quem morreu, assassinada pela aliança direção/poder público/empreiteira/imprensa isenta, foi a própria torcida. E não vai qualquer ofensa às pessoas torcedoras. A maior das ficções destruídas foi a da própria personalidade de uma torcida, transformada por aqueles em nada, entidade ausente, destinada somente a aceitar, sem opor qualquer resistência, o acordo desenhado por este grande esquema. Nesta saga, a torcida rósea simplesmente não existe. De segundinos, foram rebaixados à mudez e invisibilidade;
  • Morreram a atitude “republicana” do Tarso, a recusa ao “malfeito” da Dilma e, muito provavelmente, a candidatura da Manuela e, quem sabe, a do Fortunati, junto com o exclusivo e inamovível “plano A”;
  • Para a maioria que acompanha este Blog, a imprensa esportiva gaúcha já estava morta e devidamente enterrada. Foi incrível verificar, entretanto, nos últimos meses, o quanto a consciência de muitos conseguiu perceber que os privilégios e as proteções concedidas ao SCI, em seu comportamento irresponsável, não era por pura ruindade, mas por alinhamento, em razão de estreitos objetivos materiais. Incrível notar como, enquanto os isentos inventavam histórias mirabolantes e risíveis para descartar o “plano B” e promover o Remendão em cada um dos seus 17 (!) comunicados sobre a – inexistente – reforma, as redes de informação gremistas eram capazes de gerar e mobilizar informação digna, transformando a desinformação pára-oficial das redações em completo engodo de um mundo espetacular e paralelo;
  • E morreu a nossa própria noção habitual de tempo. O grande autor desta re-engenharia da existência foi o presidente Luigi. “Semana que vem” tornou-se medida insondável. Agora, a promessa é que tudo será acertado até o “final do ano”. Então, já não saberemos mais, também, quanto dura um ano. E por ficarmos esperando, perdemos a oportunidade de fazer duas Copas quase sem custos, da forma mais virtuosa, como mandava o manual de ética das Copas. A palavra virou letra-morta, perdendo-se a possibilidade de se fazer, na Arena, os eventos a custo público quase zero e em condições ótimas de recepção, uma vez que o simples investimento nas suas obras do entorno, além de viabilizar os eventos, redundaria em equivalente ou maior retorno na forma de impostos, empregos e investimentos. E quem acreditou no tempo do Luigi e no coro de contentes que usa o SCI para seus fins também privados, resolveu matar a própria inteligência. E há, ainda, quem continue se suicidando mentalmente.