3 de outubro de 2011

A Copa é deles?

Convido aos senhores leitores, de todos os matizes para uma reflexão séria sobre o evento Copa do Mundo 2014.
_____

Uma palavra sobre o "argumento Wianey"

Inicialmente e, de forma muito rápida, opino sobre o tweet do jornalista Wianey Carlet, objeto do penúltimo post do seu Algoz. Minha opinião sobre o evento não leva em conta interesses de quais cores ele está defendendo. Digo apenas que considero um escândalo uma pessoa dita profissional de imprensa divulgar, publicamente e sem nenhum pudor, um texto contendo ameaça na forma de pura chantagem a uma empresa. Chegamos ao ponto do "vale-tudo pela Copa". Esta é uma longitude para lá de perigosa.

Tenho sérias dúvidas de qual será a postura da Presidente Dilma, se esta informação chegar a ela. Talvez tenhamos um projétil saindo pela culatra.
_____

Copa em Porto Alegre

Há quem seja contra, há quem seja a favor, há os que não se importam. Penso que a realização da Copa do Mundo em Porto Alegre será boa para a cidade. É certo que teremos algumas semanas de preços altos, de trânsito mais complicado e de alguns transtornos. Porém, sendo subsede de um grupo do Mundial, a cidade ganhará obras que há muito tempo reclama, edificações que resolverão ou minimizarão alguns problemas crônicos da Leal e Valerosa pelos próximos anos.
_____

Copa é caldo de cultura para corrupção?

Alguns dos "inimigos" da Copa do Mundo em Porto Alegre têm por principal argumento o fato de que os negócios da Copa são escusos e permeados por propinas e desvios de dinheiros públicos e, diga-se a bem da verdade, também de patrimônios privados. Acredito que sejam. Mas este argumento não me serve para repudiar a realização do evento aqui em Porto Alegre. Afinal, se a Copa é no Brasil e se os órgãos controladores e repressores deixarem de fazer a sua função, o que importa se o corrupto é um gaúcho, um paulista ou um paraense? Não sou guardião da honra de nenhuma etnia. Ladrão é ladrão e merece cadeia, independente de qual seja o seu torrão natal. Escorraçar a Copa de Porto Alegre, não a fará mais limpa.
_____

A Copa é "deles"

Este é um ponto sério e deveria ser o cerne de uma discussão iniciada já há muito tempo pelos poderes públicos do estado e do município. É certo que o Sport Club Internacional habilitou-se a ter os jogos em seu estádio. Ao fim, teve o Beira-Rio escolhido como subsede. Um Termo de Compromisso foi assinado (clique no link para lê-lo), no qual o clube se compromete a concluir o estádio já para a Copa das Confederações, de 2013. Em agosto de 2009, a reforma começou. Quer dizer, foi feito o mise-en-scéne do início da construção das fundações da cobertura. Tudo parou até dezembro de 2010, quando as arquibancadas foram desmanchadas. Em junho deste ano, nova paralisação, para mudar o modelo de financiamento, incorporando-se ao projeto de reforma uma construtora-parceira.

A despeito dos atrasos e mesmo com o risco da parceria não se realizar, os dirigentes do SCI afirmam com voz alta e clara que "A Copa será no Beira-Rio ou não será em Porto Alegre". Esta é uma afirmação que carrega um misto de soberba e de irresponsabilidade.

Soberba, porque parece desprezar os indícios de que a parceria corre sério risco. Comenta-se que a Andrade Gutierrez alega a necessidade de refazer fundações (ao custo de R$ 30 milhões, os quais a empresa não quer bancar), que deseja estender a exploração por muito mais do que os 20 anos inicialmente pensados e, entre outras demandas, requisita 100% da exploração do Gigantinho e do entorno do estádio. Tudo para que o negócio apresente rentabilidade atrativa pelas contas da construtora. O clube parece apostar numa saída política, num socorro governamental de última hora, para safar-se do imbróglio no qual se meteu por seu livre arbítrio.

A irresponsabilidade da afirmativa está no fato de que, ao colocar em risco o seu projeto de reforma, por absoluta incompetência, coloca também em risco a realização da Copa em Porto Alegre. Imaginem os prejuízos que sofrerá a economia do município se Porto Alegre perder a condição de subsede da Copa. Perguntem ao comércio, à indústria e aos prestadores de serviço o significado disso para eles. Pensem no que representam nas obras de infraestrutura que deixarão de ser feitas na cidade por conta disso. Se a Copa não tiver jogos em Porto Alegre, a fatura desses prejuízos deve ser enviada para cobrança neste endereço: Av. Padre Cacique, 891 - CEP 90810-240 - Porto Alegre (RS).
_____

Pode haver outra fatura

Ao forçarem que terceiros encontrem saída para a sua incompetência em realizar o projeto que propuseram, os dirigentes colorados  fazem o tempo passar. Jogam com o tempo para, se restar inviável a realização dos jogos no Beira-Rio, não haver condições de as obras de infraestrutura serem direcionadas para o estádio que tem condições de acolher a Copa. Não ganhariam, mas também não perderiam o "Gre-nal da Copa" que criaram em suas cabeças.

Talvez premidos pelas dificuldades, embevecidos pela sobrançaria ou ambas as coisas, os dirigentes do SCI não tenham se apercebido de um detalhe perigoso no jogo que estão jogando. Existe um Termo de Compromisso assinado, no qual eles se comprometem a deixar o estádio pronto para os jogos. O clube vem recebendo benefícios fiscais, unicamente em função da Copa. Se não houver Copa, certamente tudo deverá ser restituído e os impostos devidos recolhidos aos tesouros estadual e municipal. Este será o custo da "esperteza". É bom que alguém da Padre Cacique acorde e perceba a areia movediça na qual estão ingressando, ao agirem para tornar real o discurso arrogante de que "A Copa será no Beira-Rio ou não será em Porto Alegre".

Se já houver convicção de que o projeto de reforma é inviável, é hora de recuar. É inteligente recuar. Continuar com o blefe poderá criar duas faturas a serem quitadas ao invés de apenas uma.
_____

E o Plano B?

As pessoas perguntam por que a Arena não é considerada pelo Prefeitura, pela FIFA, pelo Papa... quando se fala da Copa em Porto Alegre. Ocorre que, oficialmente, o estádio escolhido é o Beira-Rio. Nada pode ser feito sem que haja a desistência oficial do atual anfitrião. Qualquer movimento que o Grêmio faça significará que entramos no "Gre-nal da Copa" criado por cabeças pequenas da Padre Cacique e uma disputa acirrada desta natureza, com a rivalidade que temos aqui, poderá ser a pá de cal da Copa em Porto Alegre. Melhor deixar que o assunto se resolva, sem interferir.
_____

Concluindo

Honestamente, não morro de desejos de ver a Copa ser realizada na nossa Arena. É certo que isso daria visibilidade ao Grêmio e alguns ganhos financeiros. É certo que ver o SCI pagar um mico monumental renderá bons posts e diversão por um bom tempo. Mas confesso que este assunto cansou. Para alguns, já virou doença.

A única coisa que eu espero é que haja bom senso do lado vermelho, para que a cidade não perca. Se não houver condições de tocar a obra, que se livrem logo do encargo. Se a reforma for acontecer, que anunciem logo a assinatura (pode ser na semana que vem) e sigam a vida.

Porém, será inaceitável para mim se a solução ocorrer via sangria dos cofres públicos. Aí, senhoras e senhores, será um escândalo de tal proporção, que nunca poderá ser esquecido.