2 de dezembro de 2011

Minuta

Agora com a estrófe final.
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A ideia veio quando, no meio da hashtag #MinutaSongs, o Bonatto lascou: "E a MINUTA!" - Essa pergunta me é feita, A cada vez que declamo, É uma coisa que reclamo, Porque não acho direita...". Daí veio a inspiração. Abaixo, o resultado, com base no consagrado Bochincho, de Jaime Caetano Braun.
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Minuta
Por Arigatô

Numa Arena certa feita
fui espichar o meu olho,
que a inveja é feito piolho
nunca para nem se ajeita.
Eta obrinha perfeita!
De pronto bateu a inveja,
meu olho já lagrimeja
só de olhar pra essa beleza
e bate aquela certeza
de que ali vai ter colheita.

Mal botei o olho nela
quis ter a minha versão.
Sempre fui muito imitão,
como a história revela.
Nem refresquei a arruela
da dor do tal Mazembaço
derrubei com estardalhaço
o chiqueiro a beira lago.
Acho que eu tava no trago
ou então batendo biela.

Fiz conta de gente rica,
vendi terreno na lua.
Sou chegado em falcatrua,
me espalho qual tiririca.
Camarote de um milhão,
ofereci pra torcida.
Era colher na jazida,
ouro puro e diamantes,
(coisa nunca vista antes)
e "enfeitar" o remendão.

A inveja cega a mente,
como poste de curral,
me meti num lamaçal
que me deixou impotente.
Quando acordei da burrada,
tava co'as cueca na mão,
entregue pra um garanhão
que usa AG como alcunha,
Nem Cristo ou Aod Cunha,
pra me livrar da enrascada

Mas não me dei por vencido,
pois sei afagar isento,
não vai ser pouco cimento,
a me deixar abatido.
Comecei meu plano novo
pra conseguir uma ajuda.
Já tive tanta e graúda.
Erário é meu território,
me ajudar é obrigatório,
sempre me servi do povo.

Mas algo foi dando errado,
e o dinheiro não pingou.
O angu só engrossou,
e eu sigo aqui atolado:
o meu remendo no limbo,
minuta no vai-não-vem,
querem o meu recavém,
também a vaca e o terneiro,
a copa e, junto, o copeiro.
Querem o nego e o cachimbo.

Enquanto isso, o vizinho
vai crescendo a olhos vistos
mais ligeiro que o previsto,
e eu trocando pergaminho.
A inveja me fez refém,
to entregue pra empreiteira
essa coisa traiçoeira,
que quer ter lucro comigo.
Eu quero empreiteiro amigo,
ele quer meter o trem.

Em minutas já não creio,
pero que las hay las hay!
"Semana que vem", uai!
É assim que eu papagueio.
E os baratos dão suporte,
na mentira repetida,
sempre com ampla acolhida
com sói acontecer.
É isso, ou não receber,
isento que se comporte.

E a minuta?
Essa pergunta me é feita
cada vez que eu os chamo
e é uma coisa que eu reclamo
e acho que não é direita.
Acho até uma desfeita
e entender nem consigo:
eu no medonho perigo,
num tal pau filho da puta,
querem saber da minuta,
ninguém se importa comigo.

A minuta nunca mais vi,
sequer um rastro que seja.
Talvez em sonho a veja
num bárbaro frenesi.
Talvez ande por aí,
engasgada numa goela,
na pasta da Manuela,
no bolso de um deputado,
e eu aqui descadeirado,
pulando como um sagüi.