13 de março de 2012

Luzes, câmeras... pffffff

Não é raro ver jogadores com bom potencial desaparecerem de cena, sem sentirem o sabor do sucesso e quiça da glória que poderiam alcançar. Talvez tudo tenha início no prematuro assédio que sofrem na base ou, quando têm rápida passagem pela categoria, pela chegada à "idade adulta" sem o cultivo dos fundamentos básicos do futebol.

A falha mais gritante que se pode ver num atleta profissional de futebol é não saber chutar uma bola. A quantidade de atacantes que não dominam esta habilidade, vital para suas sobrevivências, impressiona. Em 2006, de tanta indignação com as péssimas finalizações do time treinado à época por Mano Menezes, por brincadeira, sugerimos a criação de um equipamento retificador de pontaria: o Arigagol (leiam aqui).
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Por que profissionais não se preparam adequadamente para exercer a profissão? Conforme dissemos, vemos uma razão e dois nascedouros para ela. Na base, o menino sofre a pressão da urgência em mostrar que ele é o cara. É preciso que, com 14 anos, já seja reconhecido como um  novo Pelé. Então, ao invés de treinarem exaustivamente e aprenderem corretamente fundamentos como o cabeceio, o passe, o chute mortal, lá vão eles treinar embaixadas com voltinhas, com o ombro, com a cabeça, com o queixo, com o nariz, com a língua e com as amígdalas.

Tudo faz parte do preparativo para o ritual de "semostração". Resultado prático: firulentos com filmezinhos vistosos no youtube, mas que nos jogos passam a vergonha do chute fraco ou torto, da conduzida de bola mal feita, do cabeceio imperfeito.
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Se não passam pela base e são descobertos já quase em idade de tentar a vida na categoria profissional, o efeito final é o mesmo. No momento em que passam a figural no elenco principal, devem portar-se como estrelas prontas e acabadas para os shows. Não fica bem uma estrela ser flagrada treinando pontaria, condução de bola, passe, cabeceio. Afinal, as câmeras estão por todos os ângulos e onde já se viu um novo Pelé ser visto treinando fundamentos? Falta de treinamento básico: este é o início do fim de muitas carreiras. Os clubes carregam grande parte da culpa por este desperdício.
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Escrevi tudo isso, porque li sobre o empréstimo de Júnior Viçosa para o Goiás. Um caso típico de jogador com bom potencial, a quem não deram a tarefa básica de treinar o fundamento do chute. Se ao invés de ter ido para o Sport, tivesse ficado o ano de 2011 inteiro treinando finalizações, sua grande carência, poderia hoje estar despontando como uma grande promessa de atacante. Mas, parece que aprender é uma vergonha muito grande no milionário mundo do futebol profissional.

Então, hoje, vai-se Viçosa. Amanhã, vão-se João, Pedro e Paulo e ninguém faz nada para estancar a mortandade de talentos. Uma lástima.