5 de janeiro de 2013

Daniel Matador: Que droga de vida


Caros

Para algumas pessoas, a vida é mesmo uma tristeza. Esta semana minha mulher foi para a praia com meus sogros para ajudar a fazer aquela limpeza na casa para o verão. Eu, mané que sou, não consegui tirar férias e fiquei aqui na cidade, trabalhando feito um condenado. E depois do expediente ainda tenho que ir todo dia na casa dos meus sogros, que fica bem pertinho (EM GRAVATAÍ!!!) e ver se o gato deles tem comida e água. Sem contar que fiquei sozinho com o Lebon e o Murphy (os dois cachorros lá de casa) e o Morceguinho, o Caquinho e a Manchinha (os gatos), que só comem, dormem e alopram o dia inteiro. Como chego tarde do serviço, a louça está acumulando na pia há três dias e nem me entusiasmei em mexer no cesto da roupa suja, que também está enchendo diariamente. Apesar de ser um chef de cozinha de primeiro nível, meu cansaço ao chegar em casa também não me anima a cozinhar, muito menos enfrentar as filas no mercado para comprar alguma coisa. Ontem meu banquete no jantar foi um pacote de bisnaguinhas com nata, acompanhado de um litro de chá mate gelado. Era o que a casa oferecia.

Como citei, a vida para algumas pessoas é uma tristeza. Não pra mim. Não consegui ir para a casa de praia dos meus sogros? É, até concordo, uma praia e férias agora seria uma boa. Mas fico contente de ter uma ocupação que me demande serviço, mesmo que eu esteja quase no bagaço de tanto trabalhar. E a casa de praia dos meus sogros fica em MOSTARDAS!!!!! Se alguém já foi até o fim do mundo, saiba que Mostardas fica um pouco depois. A própria estrada que leva para lá tem o singelo apelido de Estrada do Inferno. Acho que saí no lucro e dar uma olhada no gato deles não é nenhuma tarefa das mais complicadas. Ok, Gravataí também fica longe pra dedéu, mas comparando com uma viagem a Mostardas é melzinho na chupeta. E os cachorros e gatos lá de casa fazem uma festa quando chego do serviço de noite. Quem tem animais e presencia a reação deles quando a gente chega em casa é um privilegiado. O Lebon (sim, ele é um cachorro linguiça  antes que perguntem) parece que vai ter um ataque epilético. E o Murphy bate o recorde dos 5 mil metros rasos correndo feito louco pelo pátio lá de casa. Até os gatos ficam mais animados (daquele jeito deles). É muito bom e compensa qualquer problema que tivemos durante o dia. E, a propósito, eu adoro bisnaguinha com nata e chá mate gelado.

Tá, mas e o que isso tem a ver com o Grêmio e o título do post? Nos início dos anos 90, Mel Brooks protagonizou uma comédia com este mesmo título. Que Droga de Vida contava a história de um bilionário que apostou com um rival que sobreviveria na parte mais barra pesada de Los Angeles durante um mês sem nenhum dinheiro no bolso. Também não usaria cartões de crédito ou afins, bem como não iria se valer de seu nome para sobreviver. Em suma, viveria sem nada. E o oponente que topou a aposta (outro bilionário) faz de tudo para sacaneá-lo e fazê-lo perder a aposta. Em determinada cena, ele cita aos prantos a frase que dá nome ao filme. Mesmo sendo bilionário, por conta de escolhas que fez ele chega ao seu limite por viver nas ruas, lutando por comida e sem luxo algum. E enquanto isso suas empresas continuavam dando muito lucro e crescendo. É uma comédia ao estilo Mel Brooks, com pitadas de inteligência e crítica social, diferente das comédias forçadas. Rende ótimas risadas e vale cada segundo em frente à tela.

O Grêmio é uma instituição centenária e vencedora. Um clube invejado por muitos. Há até poucos anos atrás, antes do futebol se prostituir e Leis Pelés da vida existirem. Antes de agremiações como Once Caldas, Corinthians e outras levantarem taças da Libertadores, o Grêmio era um dos raros clubes que podia vangloriar-se de ostentar títulos desta grandeza e até maiores que este. Causávamos inveja na gigantesca maioria dos clubes do país e inclusive entre os chamados “clubes grandes”, pois nem todos tinham sequer uma ponta disto. Sempre estivemos em outro patamar. Escolhas erradas nos colocaram em um período onde as vitórias e as conquistas foram rareando. Caprichos do destino também ajudaram a colocar o Imortal fora de prumo. Ainda assim, enlouquecendo qualquer prognóstico, a instituição se mantém, causa nova onda de inveja ao erguer um estádio magnífico e a torcida cresce e se renova ano a ano. Que droga de vida?

Sem endeusamento de ninguém, sem condenação de ninguém. O Grêmio é maior que qualquer um. Ficará aqui depois que nós partirmos. Afinal, é Imortal. Então, torcida tricolor, vamos parar com a crise existencial. Vamos parar com o achincalhamento do trabalho que está sendo recém iniciado, independentemente de quem e como o mesmo está sendo conduzido. Aguardemos, pois, os resultados para então cobrarmos. E principalmente comemorarmos caso este resultado seja positivo, como eu particularmente torço para que seja, agora e sempre. A fase é ruim? Claro, para quem já esteve no Olimpo a planície é aborrecida. Mas cada vez mais o sentimento de que Deus está preparando algo melhor para nós torna-se mais forte em meu coração. Torço para que este sentimento não só torne-se realidade, mas também invada as almas da torcida gremista.

E não, a vida não é uma droga. Só sendo muito amargo para pensar desta maneira. Agora, com licença, que eu tenho que tomar meu chá mate gelado e fazer um cafuné no Lebon.

Saudações Imortais