27 de fevereiro de 2013

Daniel Matador: O Rei do Inverno

Caros


O título do último post pós-jogo da Pitica evocou-me algumas lembranças e sensações. Escreveu ela que houve “moloidice em dia mormacento”. Concordo quanto à moloidice, pois realmente não ocorreu a escolha da melhor formação tática, mesmo considerando os recursos humanos disponíveis para o Gre-nada. Mas o que mais tocou minhas memórias foi o termo “mormacento”. Realmente, estava um mormaço durante o jogo, tanto é que o assisti com o ar condicionado ligado, acompanhado de meu fiel copo de chá mate gelado. Até o Lebon e o Murphy (meus cachorros, pra quem ainda não sabe) estavam deitados no chão geladinho dentro de casa por conta do calor.

Mas qual o motivo de falarmos do clima? Por um motivo que pode inclusive fugir à razão. Me recordo que boa parte das partidas que assisti no Olímpico Monumental foram em dias frios. Alguns, muito frios. O pessoal que está na adolescência não tem mais memória disto, mas na época em que eu cursava o primário o verão não costumava ser tão inclemente. Obviamente que fazia calor, mas não tanto quanto os dias saarianos aos quais estamos quase nos acostumando de alguns anos pra cá. E o inverno, naquela época, parecia uma estação aguardada com temor por muitos, tal qual os personagens de Game of Thrones. Se na obra de George Martin o pessoal fala com temeridade que “o inverno está chegando”, por aqui a coisa não era muito diferente. Eram muitos meses de frio intenso e chuva gelada. De uns anos pra cá nem tanto; aliás, nem perto disso. No ano passado trajei apenas uma única vez meu sobretudo de lã uruguaia. Os dias frios, assim como as vitórias do tricolor, têm ficado a cada ano menores.

Tenho na lembrança vários jogos e conquistas do Grêmio que ocorreram durante a estação fria. As fases decisivas de Libertadores e Copa do Brasil, via de regra, ocorrem no outono e inverno. Me recordo daquele Grêmio e São Paulo, em 2007, quando os bambis já sentiram o cutuco antes de entrar em campo, só por conta da temperatura beirando zero grau. E a manchete no jornal do dia seguinte, depois da classificação sobre a equipe paulista: “Grêmio congela o São Paulo”. As próprias finais onde fomos campeões, em 1983 e 1995, ocorreram em dias frios. Me lembro de estar no Olímpico para a primeira partida da final da Copa do Brasil de 1997, contra o Flamengo. Um frio desgraçado e o Dinho dando um sarrafo no Sávio para ele parar de fazer gracinha. Houve épocas em que até o Gauchão avançava inverno adentro e se jogava à noite, abaixo de garoa, em campos enevoados e com cristais de gelo sob a grama. Hoje até o ruralito termina junto com o verão, e sua importância parece ter definhado como os dias de inverno. Para mim, sempre pareceu que o Grêmio jogava melhor no frio. Era quase um fator extra-campo que vinha em auxílio do time. Pode ser apenas uma coincidência, mas desde minha infância, sempre tive para mim que o Grêmio era o rei do inverno.

No mesmo inverno de 1995, quando mostramos mais uma vez quem era o soberano da América, Bernard Cornwell lançou o primeiro livro da espetacular trilogia As Crônicas de Artur, intitulado O Rei do Inverno. A saga continuaria no ano seguinte com o excelente O Inimigo de Deus e encerraria com chave de ouro em 1997 com Excalibur. As cenas de batalha que ocorrem em campos encharcados de Avalon poderiam ser comparados aos melhores jogos encarniçados de Libertadores. Obriguei o Nicolas “Ah Muleque” a ler a trilogia e até o texto dele já está melhorando. É a melhor versão da lenda de Artur já feita, inclusive por envolver não apenas a ficção, mas também fatos históricos. Torcemos todos para que, assim como Artur restaurou a glória do reino em tempos gelados, também o tricolor retome seu caminho de conquistas. Não importa em qual estação.

Elizabeth II,Rainha da Inglaterra já é fã do blog.
 Estuda conceder título de Sir ao seu Algoz.

Também quis fazer menção a uma história passada na terra que inventou o futebol porque enviamos para lá nosso correspondente internacional, Seu Algoz. E a história que a Pitica contou parece que corresponde à realidade. A Rainha Elizabeth já está acompanhando diariamente o blog e ouve-se falar que já encaminhou a ordem de nomeação de cavaleiro. Em breve teremos que mudar o tratamento dispensado a nosso blogueiro-mor. Vamos ter que nos preparar para saudar Sir Algoz.

Saudações Imortais


Photoshop: Daniel Matador