28 de março de 2013

Daniel Matador: Deixem o futebol para mim

Caros


Como bem citou a Pitica em seu post recente, os últimos dias de postagem no blog têm sido tensos. E o mais incrível: o motivo dos ânimos exaltados não é o futebol em si, mas uma série de eventos periféricos que o fazem menos nobre. Longe de nós imaginarmos que na atual conjuntura mundial as finanças, os métodos de gestão e as novas tecnologias não sejam ferramentas necessárias e talvez até mesmo imprescindíveis para o avanço, quiçá a sobrevivência de um clube de futebol. Mas creio não haver dúvida de que muitos dos que tiveram o privilégio de testemunhar uma partida no Fortim da Baixada ainda pensam que naquela época torcer era algo muito mais simples e prazeroso. A preocupação era só ir a campo para ver o Grêmio e vibrar, antes, durante e depois do jogo.

Hoje a coisa está diferente; aliás, muito diferente. Na tão propagada era do conhecimento todo mundo tem acesso a contratos particulares, consegue divulgar para o planeta inteiro as fotos de reuniões privadas, compartilha em instantes informações alcagüetadas por algum X-9 com interesses espúrios. Em parte é interessante o acesso à informação e a discussão salutar envolvendo os assuntos do clube. Afinal, todos somos parte interessada. Pena que estas discussões descambem para o descontrole, muitas vezes irracional, visto que muitos querem opinar e poucos são os tecnicamente capacitados para tal. Como citou nosso leitor Cláudio em uma réplica de comentário no blog, não adianta argumentar destrinchando o ROI, abrindo o fluxo de caixa ou mesmo analisando projeções de faturamento, despesa e lucro líquido. A gigantesca maioria da galera não entende bulhufas disso. Em um país onde neguinho se dá bem escrevendo redação com receita de macarrão instantâneo ou transcrevendo hino de clube de futebol, o que dá pra esperar? Mas esse é um assunto tão polêmico quanto o direito ao voto dos analfabetos no Brasil, permitido há pouco menos de três décadas atrás.

Entre tabelas, gráficos, finanças e obras civis, há algo muito mais importante: o Grêmio e sua torcida. Independentemente do partido que tomam os dirigentes, suas ações não podem ser capazes de tolher o sentimento pelo clube ou a paixão de torcer. Não foram um ou dois comentários que li com melancolia, citando as derrotistas frases de efeito “larguei o futebol de mão”, “não vou mais ao estádio” e “só voltarei a torcer quando isto acabar”. Se dissabores desta natureza se sobrepõem à alegria de torcer e acompanhar futebol, sinto informar, mas o melhor mesmo é largar de mão. Se todo mundo resolver desistir, se vários abandonarem suas bandeiras, se muitos cometerem o sacrilégio de despir o manto, não tem problema. Deixem o futebol para mim. Eu não vou desistir. Nasci gremista e sou imortal. Vivenciei situações muito mais drásticas do que esta que se apresenta. Passei por todas elas e a luta me fez mais forte.

E depois de fazer as contas de mais e menos, tirar os noves fora, acrescentar os índices e apurar o resultado final, quem estiver de saco cheio de tudo isso, junte-se a mim e faça como eu fiz. Pegue uma xícara de porcelana, misture um pouco de chocolate em pó e café, junte uma pitada de canela e acrescente leite bem quente. Pegue um pãozinho d’água, corte em pequenas fatias, passe manteiga e ponha umas pitadas de manjericão seco, tostando levemente, no forninho elétrico mesmo, cobrindo-as ainda quentes com um fio de azeite de oliva extravirgem. Sente à mesa e ouça um belo fado português enquanto saboreia o momento e desanuvia a alma, agradecendo por ser gremista. E esqueça dos números e conchavos políticos por um instante. Se prepare para torcer de novo, porque logo mais tem jogo do Grêmio. E lembre-se que, acima de tudo isto, está o Imortal Tricolor e sua verdadeira torcida, aquela que não deixa de torcer por conta de situações menores. Mais ou menos como transcrito abaixo, em uma livre adaptação para a singular canção “Minha Mãe, Nasci Fadista”, imortalizada na voz de Frei Hermano da Câmara.

"Minha mãe, nasci GREMISTA
Mora GRÊMIO no meu peito
Não se canse, não insista
Não há ninguém que desista
Quando vive satisfeito"

Saudações Imortais