3 de março de 2013

Daniel Matador: Sangue e Areia


Caros


Em 1960 o diretor Stanley Kubrick deu vida a um filme que se tornaria épico. “Spartacus” conta a história do escravo treinado para ser gladiador que liderou a maior revolta de escravos contra o Império Romano em toda a história. Kirk Douglas e Peter Ustinov, como sempre, dão uma aula de interpretação. Há pouco mais de dois anos , um obscuro canal de TV a cabo americano ousou produziu uma série para recontar a história. Intitulada “Spartacus: Sangue e Areia” e contando com  treze episódios, não havia me chamado a atenção, até que em um belo dia resolvi assistir, como quem não quer nada. Resultado: vi todos os treze episódios em um único final de semana! A série é simplesmente espetacular e a história é envolvente ao extremo. O protagonista Andy Whitfield encarna Spartacus de maneira visceral, enquanto John Hannah dá um show como o dono da escola de gladiadores.


Os treinos acontecem neste local, denominado ludus, sendo a arena é palco apenas para as lutas. As cenas de combate possuem alguns exageros cênicos propositais (semelhantes aos vistos no filme “300”), mas são vibrantes. O subtítulo Sangue e Areia faz todo o sentido, visto que o piso da Arena é tomado por areia e o sangue dos gladiadores é constantemente lá derramado. As tramas políticas que ocorrem durante a série a tornam merecedora dos mais efusivos elogios. Uma cena que ocorre no segundo episódio é marcante. Ao chegarem ao ludus, os escravos que serão treinados como gladiadores são recepcionados pelos antigos guerreiros do local e pelo treinador, denominado Doctore. De chicote em punho, ele questiona: “O que está embaixo de seus pés”? Um escravo desavisado olha para baixo e responde, titubeante: “Areia”. Ao que todos os gladiadores veteranos caem na risada. O Doctore, então, questiona ao principal gladiador, que é o atual campeão da cidade. Este responde, ensinando aos demais: “Solo sagrado, Doctore. Banhado com lágrimas de sangue”. Aos que ainda não tiveram o privilégio, recomendo enfaticamente que assistam o quanto antes a esta obra fantástica. É quase impossível não querer assistir todos os episódios em sequência.

Arena do Grêmio: agora é neste solo que serão travadas novas batalhas.


Assim como na série, os jogadores gremistas passarão a treinar em um ludus, no caso o centro de treinamento, cuja construção ergue-se em frente ao nosso novo estádio. Tal qual mostrado na história, a Arena Gremista é palco de jogos, não de treinos, como ocorre com os grandes clubes do mundo. No próprio Olímpico há campo de treinamento, sendo que o gramado principal do estádio é utilizado para treinos esporádicos, a fim de preservá-lo para os jogos. Esta é uma das razões pelas quais não dá para entender a fúria ensandecida da imprensa quando noticia-se que o Grêmio treinará uma ou duas vezes na Arena (nem perco mais meu tempo explicando). É sabido que os jogadores estão mais acostumados ao gramado, dimensões e ambiente do Olímpico Monumental. Entretanto, há que se olhar para a frente. Mesmo que todos adoremos o Olímpico, a Arena é a nova casa tricolor e todos, desde a torcida até o time, deve acostumar-se a ela. Não obstante os pontos que ainda restam a ser melhorados, desde algumas intervenções de adequação até o próprio gramado, que não encontra-se em sua plena condição, mas melhora a cada dia.


Restam locais onde o campo da Arena apresenta uma quantidade maior de areia. Ruim para o futebol, lógico. Ninguém vai contra este argumento. Mas este não pode ser o motivo alegado para que os jogadores adentrem as quatro linhas e não façam seu melhor. O Grêmio sempre caracterizou-se como um clube onde as equipes tinham pegada, chegavam junto, ríspido até, se preciso fosse. Um clube onde os jogadores sempre tiveram o espírito de não permitir uma vitória do adversário, pressionando continuamente para reverter alguma desvantagem. Com técnica sim, pois ela fornece as condições para sobrepujar as demais equipes. Mas com a força que desde tempos imemoriais caracterizou os times gremistas. Fez bem Koff em ratificar a Arena como palco do próximo jogo da Libertadores. Acelera os esforços para que sejam concluídos os detalhes que faltam e pressiona o poder público no tocante à concessão da documentação.


Resta ao time ficar ciente de que está imbuído de uma missão nobre. Aqueles que pisam na Arena não estão pisando em grama ou areia. Estão pisando em solo sagrado e possuem o privilégio de escrever as primeiras páginas de sua história. Que façam por merecer esta honra. Que atuem como os gladiadores, sabendo que uma derrota pode significar a morte. Que suas chuteiras gravem as primeiras lendas de nosso novo campo de batalha. Que seus feitos possam ser lembrados por gerações. Sem importar-se com detalhes do campo, apenas em vencer e marcar mais glórias para o Grêmio. Se preciso for, com sangue e areia.


Saudações Imortais