29 de abril de 2013

Daniel Matador: Amanhã será outro dia

Francamente, minha cara, eu não dou a mínima.”
Rhett Butler, em “E o vento levou”




Caros

Estava montando um dossiê a respeito de um esquema muito bem armado para favorecer um determinado clube. Tal clube pretende adonar-se de uma área que não é sua, cedendo-a para que o Governo Estadual ali construa um empreendimento que certamente valorizará a referida área, ao mesmo tempo contemplando gratuitamente aspectos não previstos no atual contrato de reforma de seu estádio, aspectos estes que custariam uma pequena fortuna para serem feitos. O terreno da área a ser cedida pertence à Prefeitura Municipal, que ficou indignada por não ter sido sequer consultada. Coisa pouca, ninguém deu muita bola pra detalhes tão pequenos, afinal é só o patrimônio e o dinheiro de toda a população que financiará este empreendimento. Juntei documentação, fiz algumas ligações, mandei alguns e-mail’s, apanhei até notícias saídas na imprensa (na parte de Economia e Governo, não na parte de Esportes, pois lá não sai nada que venha a prejudicar tal clube). Mas resolvi deixar este assunto adormecido por enquanto, em face dos acontecimentos ocorridos em Caxias do Sul neste final de semana.

Pô, Matador, mas isso tem que vir à tona! Por que não publicar?”, perguntariam todos os seres pensantes do planeta. Pelo único e simples motivo de que não estou a fim de dar mais munição para o pessoal que ainda acha que o blog está tentando tapar o sol com a peneira em relação ao futebol do Grêmio. Como citei em outras oportunidades, o Imortal pode ganhar todos os campeonatos do mundo duzentas vezes. Nem isso irá frear a campanha de destruição da instituição via imprensa. São coisas distintas, ainda que muitos achem que o fato de noticiarmos este tipo de coisa é cortina de fumaça para que os defeitos do time sejam escondidos. Teve gente reclamando nos comentários que sentamos o pau na ivi durante a semana toda e ainda assim o time não se classificou. Como se uma coisa estivesse ligada à outra. Se não tivéssemos falado nada, aí o time jogaria como nunca e patrolaria. Se optássemos por nos calarmos, a arbitragem não meteria a mão. Santa ingenuidade, Batman!

É óbvio que todo gremista quer ver o time ganhando sempre, desde Libertadores até jogo de chimpa. Mas é brabo jogar até mesmo o jogo de chimpa quando no início já se sabe que a coisa está programada para acontecer de outra maneira. O norte da torcida tricolor agora é o que sempre pautou o ano: Libertadores da América. Seremos campeões? Não sei, ninguém sabe, todos torcemos para que sim (pelo menos eu torço).

Em 1939 (quando Seu Algoz já tinha cabelo branco), a Metro-Goldwyn-Mayer, o estúdio de cinema que tem o leão rugindo, lançou aquele que até hoje é seu maior clássico (e um dos maiores da história). “E o vento levou” conta a saga de uma família em meio à Guerra Civil nos EUA, tendo arrebatado 10 estatuetas do Oscar. As quase 4 horas de filme passam de forma incrível por conta do enredo. O protagonista Rhett Butler, vivido por Clark Gable, é um dos maiores já interpretados e uma de suas frases é considerada a melhor do cinema pelo American Film Institute. A mocinha Scarlett O’Hara, brilhantemente interpretada por Vivien Leigh, ao ver que Rhett a está deixando, pergunta com desespero: “Se você for embora, para onde eu irei? O que eu farei?”; do alto de sua canastrice, Rhett simplesmente responde: “Francamente, minha cara, eu não dou a mínima”. MESTRE!

Este é praticamente meu sentimento ao presenciar a saída do Grêmio do Ruralito. Por mais que a gente queira dar uma chance para ele, é brabo de aguentar o esquema todo. Talvez um dia a coisa mude, quando todos poderão participar de forma legal da competição. Até ficaria contente caso o Koff, no cruzeiro em alto-mar para decidir o Gauchão 2014, batesse na mesa, derrubasse os copos de uísque escocês e anunciasse que não disputaria o campeonato ou que colocaria o dente-de-leite para representar o clube, a se manter este formato. E sairia a passo, rumo ao helicóptero que já estaria esperando-o no navio, enquanto o presidente da federação perguntaria, com cara de tacho, o que eles fariam sem o Grêmio no torneio. E ele responderia, com sarcasmo e um meio riso no canto da boca: "Francamente, meus caros, eu não dou a mínima". Seria épico! Até lá, o ideal é que possamos nos ater ao que interessa, a Libertadores. Pois uma outra frase do filme citado é um clássico que faz todo o sentido neste momento: “Afinal de contas, amanhã será outro dia”.

Saudações Imortais