19 de novembro de 2013

Um gremista do outro lado do mundo

* Texto do gremista e leitor do blog, Josué Santos

Josué (esquerda), um gremista no Japão.

"Já perdi as contas do tempo que eu acompanho este blog, mas acho que a maioria dos leitores já me conhece dos comentários (onde assino com o pseudônimo @joshcharrua – e não, não é uma homenagem ao grande Maxi Rodríguez) ou pelo meu nome, Josué Antonio, que é como costumava assinar até certo tempo atrás.
Em resposta ao pedido da Pitica, vou escrever um pouco sobre como é ser um gremista no Japão, aqui do outro lado do mundo. Aproveitando que dia 19 é meu aniversário (27 anos, espero que antes dos 30 consiga ver o Grêmio levantar o Tri da Libertadores), acho oportuno escrever agora.

Primeiramente, ao contrário de muitos brasileiros que vivem aqui, eu não tenho nada de japonês no sangue. Sou natural da fronteira-sul, lá de Rio Grande, filho de mãe gremista e pai vascaíno (radicado no Rio). E apesar de desde pequeno ter carinho pelo Grêmio e, como muitos da minha geração, ter nos títulos de 95 e 96 o ápice do gremismo, só a partir de 2000 que comecei a viver em Porto Alegre e pude estar presente em alguns jogos do Grêmio acompanhado pelo meu irmão mais velho, este na época muito mais fanático do que eu. É gratificante ter vivido o Olímpico e doloroso saber que quando regressar ao Brasil ele não estará mais lá.

Em meio aos amigos e à cultura japonesa.


Vim para cá em outubro de 2012, após ter conseguido uma bolsa de estudos do Governo do Japão. É a minha segunda vez aqui, país onde fiz intercâmbio entre setembro de 2007 e agosto de 2008. Conheci uma japonesa nesta época e hoje estamos casados e pais de um pequeno gremista, Enzo. Um dos grandes motivos de ter retornado ao Japão é justamente a sensação de segurança que o país oferece e foi pensando nisso e na educação dele que decidimos ficar por aqui um pouco mais. Concluí o curso de especialização na área de Tradução no mês de setembro e, no momento, estou indeciso se entro em um doutorado ou se foco em procurar emprego, que é o mais provável já que começaram a pintar algumas coisas nessa direção.

O Japão é o país mais organizado que eu conheço. O contraste com o caos que algumas coisas são no Brasil chega a ser chocante, uma vez que tu estás acostumado com um ou com outro. Claro que para o estilo de vida de muitos brasileiros, tanta organização assim não é tão boa, pois acaba sendo um pouco restringente. Agora, os benefícios que vêm disso são recompensantes e vale a pena a distância por inúmeras razões. Essa mesma organização dá para ser vista no futebol: aqui as escolas todas têm turno mais longo que as nossas e, acabadas as aulas, são muitas as atividades de recreação que um aluno pode participar. Os "clubes" de esportes, cultura e lazer são levados a sério e, por exemplo, o campeonato escolar de futebol aqui é transmitido em rede nacional, com patrocínio de Adidas, Panasonic e outras grandes marcas. A liga de futebol profissional é muito mais doméstica do que internacional e isso vem se refletindo com o aumento de jogadores japoneses sendo exportados para a Europa. Agora, o nível é muito abaixo da Série A do Brasil e das grandes ligas européias. Futebol ainda é muito novo no Japão e fica atrás em popularidade do baseball, basquete e vôlei, entre outros esportes menos populares ainda no Brasil.

Um filho imortal tricolor.

Torcer de longe não é nada fácil; toda vez que vejo a Arena e penso que ainda não estive lá me dá uma baita vontade de voltar. Acho que o Grêmio, os amigos e a gastronomia é do que mais sinto falta do Rio Grande do Sul. Mas espero voltar para comemorar um título em breve. Torcer daqui é uma tarefa horrivelmente solitária: o único amigo na mesma cidade que eu consegui convencer a acompanhar alguns jogos do Grêmio comigo é argentino, torcedor do Rosario Central. Todos os outros gremistas que eu conheço estão em outras cidades.
Enfim, mas em um geral ainda que mais solitária, a minha rotina em dias de jogos ainda é a mesma; se estou ocupado durante o dia e o jogo é importante, já perco totalmente a concentração em outras coisas. Fico checando o blog, os comentários, as notícias, busco saber tudo que acontece no Grêmio. E chega na hora do jogo, eu já estou devidamente fardado, com meu celular (se estou na rua) sincronizado em alguma rádio ou video streaming ou em casa, com bandeira pendurada na parede vibrando e sofrendo em cada lance. Se as coisas não vão bem, meu mau humor dura a semana inteira. Isso é uma coisa bem ruim também de se estar no Japão: todos os jogos acontecem em um horário bem louco (4h da manhã, 7h da manhã ou 10h da manhã) e se o time vai mal, lá se vai o meu dia também!

Confesso que para alguns jogos do Brasileirão eu não consigo acordar, mas busco ver os melhores lances tão logo estou de pé. Não adianta, a torcida tricolor gosta mesmo é de copas. Esse ano, mais até que na Libertadores quando eu senti que as coisas não iam dar certo quando o Luxemburgo começou a cometer erro atrás de erro, eu estava realmente pilhado para a Copa do Brasil. Acreditei como há muito não acreditava, visto que estávamos na semi-final contra três adversários que não colocavam medo em ninguém. Com a Arena empurrando e um resultado não determinante no primeiro jogo, achei que essa Copa seria nossa. Não deu. Fiquei extremamente chateado como todos nós ficamos, mas como o Daniel bem disse: vaga vale muito. Esse ano não entramos para comemorar vagas, montamos um time e entramos com o ânimo de levantar canecos, como há muito tempo não se via. Perdemos, paciência, não estou contente e não vou comemorar a vaga como se fosse um título porque não é, mas vou sim comemorar. Todos nós vamos. Os vermelhinhos não.

Filho já foi apresentado ao Olímpico Monumental.

Eu acho que os elencos do Grêmio vêm numa crescente ano após ano: de 2007 para cá, qualificamos muito os nossos times. Os títulos não vieram, mas ano após ano, formamos elencos que na teoria estão entre os três, quatro melhores do Brasil. Uma hora o título vai vir. Eu não sou koffista (votei nele, sim, mas sou GREMISTA acima de tudo), mas sei reconhecer a diferença que faz um líder com a experiência e o número de títulos no currículo que ele tem. É o que me dá esperança enorme para 2014.
Se mantivermos nossas peças principais, qualificarmos com dois ou três reforços e acertamos novamente nas apostas (como as que vieram do Juventude ou a que veio do Uruguai), acho que a Libertadores virá. Tem que vir! Estamos sedentos por um título expressivo e tenho fé que uma vez que levantarmos uma Libertadores ou um Brasileirão. Ninguém segura o Grêmio nos próximos dois ou três anos. Só acho que o Renato é teimoso demais. Penso que ele nos classificará e vai ficar para o ano que vem, mas que o Koff dê uma dura nele. Foi a teimosia do outro (e um azar do capeta) que fez com que o nosso meio-de-campo não tivesse Bertoglio e Rodríguez como opções. Seria uma dupla e tanto!

Eu vejo muitos comentários criticando alguns jogadores como Alex Telles, Werley, Riveros, Kléber e Barcos. Precisamos de mais paciência. Se me perguntarem o que eu acho do Barcos agora, por exemplo, eu responderia secamente: "a maior decepção do ano". Agora o que ele fez no Palmeiras no ano passado tinha feito dele uma unanimidade entre nós gremistas. Todos o queriam , não apenas o Grêmio. O ano está acabando. Criticar Barcos, , Riveros, Kléber não vai consertar nada. E novamente se livrar de 11 para trazer mais 20 também não nos fará campeão. Tem que consertar o que se pode consertar. Dar confiança para quem precisa dela (o Alex fez meio ano incrível, ele não desaprendeu de uma hora para outra; o Riveros quase quebrou os cornos fazendo um gol para o Grêmio e agora é tratado como "pereba" por alguns), negociar quem não tem ganas de jogar e apostar em gente certa. O Maxi não será o herói sozinho.

Nós, como bons torcedores, temos o dever de apoiar o clube, de nos tornarmos parte dessa agremiação que participamos e ajudar a levantar o moral do time para a Libertadores de 2014. A impaciência, a flauta colorada e da impren$a e, principalmente, a inaptidão em compreender o inexplicável da resposta de "como tudo que se faz no Grêmio dá errado" nos fez uma torcida bipolar, rabugenta, depressiva. E eu me incluo nesse grupo.
Vamos pegar essa esperança recém descoberta nos golaços do Maxi Rodríguez e levá-la para o ano que vem, não importa o desfecho deste ano.

Um abraço para todos!
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Adendo da Pitica: por coincidência, hoje é o aniversário do Josué. Parabéns, Josué!
Nós do blog Imortal Tricolor, desejamos muitas felicidades para ti junto a tua família aí no Japão!!!!  

Adendo do seu Algoz: o blog não vai mais liberar comentários com agressões entre os leitores.