11 de dezembro de 2013

Daniel Matador: Como se fosse Ontem


Caros

Dizem que muito do que vivemos na infância costuma moldar nossa personalidade na vida adulta. E que algumas das lembranças da tenra idade são as melhores que se terá durante o restante de nossa passagem nesta vida. Sempre brinco que por vezes esqueço até o que almocei ontem. E que à noite já esqueci alguns pormenores do assunto que discuti pela manhã. Mas algumas coisas são impossíveis de se esquecer. O dia 11 de dezembro de 1983 é uma destas efemérides que jamais apagarei da memória, por mais que os anos passem.

Assim como boa parte dos fundadores do Grêmio, também minha família tem raízes germânicas. E a parentada que morava no interior do RS, por motivos que nunca preocupei-me em saber, veio em peso para assistir ao histórico jogo contra o campeão europeu lá em nossa casa. Reza a lenda que o pessoal não conseguia sintonizar muito bem o jogo em Erechim ou não havia televisão colorida, luxos que possuíamos por morarmos próximos à capital. Pouco importa, o que interessa é que tinha uma galera reunida para ver o tricolor fazer história na terra do sol nascente. Eu tinha pouco mais de 6 anos de idade, estava na expectativa de iniciar minha vida escolar no ano seguinte. E lembro tudo como se fosse ontem.

Um pequeno kerb familiar providenciado, como já era praxe em reuniões familiares, precedeu as horas antes do jogo. Comida para alimentar um pequeno exército. E durante a partida, eu sentado ali, tentando entender o motivo de tanta aflição por parte do meu pai, enquanto o chimarrão corria de mão em mão. A explosão no primeiro gol de Renato, com a cuia virando e espalhando erva pra tudo quanto era lado. Os muxoxos no gol de empate dos alemães. O que era essa tal de prorrogação que os adultos tanto falavam? O Grêmio não estava ganhando? E gritos e urros e pancadas e berros quando a bola saiu dos pés do mito para morrer no fundo da rede, após um drible desconcertante. E o mundo virou azul, preto e branco.

Talvez seja difícil tentar explicar nos dias atuais, principalmente para as gerações mais novas, o tamanho do feito que um clube fora de um grande eixo conseguiu fazer naquele 11 de dezembro de 1983. Em uma época sem Internet ou celular, fazer-se conhecido era tarefa destinada apenas aos grandes. Nada podia ser maior, como proclama o slogan adotado pelo Grêmio desde aquela época. Toda vez que assisto os lances da antológica partida, o gremismo aflora mais forte. Alguns anos sem título? Pode ser. Para mim, quando revejo a final do Mundial Interclubes de 1983, volto a ser criança de novo. O tempo volta para minha infância, quando soube que a Terra sempre foi azul. Como se fosse ontem.

Saudações Imortais