15 de dezembro de 2013

Daniel Matador: O MEU GRÊMIO PARA 2014

Caros

Final de ano é uma época que invariavelmente nos impele a dois exercícios: a retrospectiva do ano que passou e a perspectiva do ano que virá. Não sei vocês, mas nunca fui muito fã de retrospectivas. Sempre sinto um desânimo quando vejo as chamadas deste tipo de programa na televisão. Se alguém quiser me torturar com requintes de crueldade é só me obrigar a assistir, em sequência, à Retrospectiva do Ano, à Corrida de São Silvestre e à Missa do Galo. Pra arrematar, talvez um time-lapse de 5 horas com as obras do remendão.

A única retrospectiva que curto assistir é a retrospectiva do futebol, e apenas quando o Grêmio conquistou alguma coisa no ano. O que significa que já não tenho este hábito há alguns anos. Por outro lado, tenho seguidamente feito o exercício de imaginar a perspectiva do ano seguinte. Invariavelmente, costumamos ter esperança para o ano que está por chegar, e no futebol não poderia ser diferente. Sem apelar para sinais cabalísticos ou afins, direi por quais razões acredito que 2014 tem tudo para ser um ano marcante para o Grêmio. E principalmente porque minha esperança para o ano que vem é muito maior do que aquela que tive nos últimos tempos, onde ela era calcada apenas e tão somente na probabilidade.

O futebol, assim como a história e a vida, já provou que também é cíclico. Assim como nações crescem, encolhem e depois surgem novamente, também no mundo da bola vemos este fenômeno. Exércitos ganham batalhas, perdem guerras, são exterminados e algum tempo depois retornam. Também clubes e times vencem, são derrotados, amargam períodos de ocaso e depois ressurgem. É da vida, é da bola. Os muito jovens certamente não têm como lembrar. Muitos dos demais talvez não consigam associar os fatos. Mas a forma como têm ocorrido os eventos no Grêmio mostram-me que tudo caminha para que estejamos no início de mais um período de conquistas.

Impossível não associar o momento do clube àqueles que o dirigem. A história de que clubes devem funcionar independentemente dos nomes que o dirigem é uma falácia. Assim como as empresas, a vida dos clubes depende das ações daqueles que o comandam. E digo isto para mostrar que as ações de Koff neste primeiro ano de sua atual gestão são muito semelhantes aos primeiros anos de suas gestões anteriores. Assim como em 1982 e 1993, quando assumiu o Grêmio e teve que lidar com problemas maiores do que o futebol em si, não conquistando nada de relevante, mas fazendo boas campanhas para, no ano seguinte, voltar-se ao futebol e às conquistas. A Arena consumiu quase todo o ano e energia, não permitindo a Koff dedicar mais tempo ao futebol. A sobrevivência do Grêmio estava em jogo, não apenas para este ano, mas também para os anos vindouros. Não cabe aqui apontar culpados para isso, e sim louvar o fato de que ações foram tomadas para tentar sanar os problemas.

No futebol, determinadas situações são quase unanimidades, apesar de que quase nunca há unanimidade em futebol. Mas olhando o time do Grêmio, algumas situações já têm encaminhamento para o ano, ao passo que outras serão decididas nas próximas semanas, a saber:

O treinador: Renato fez um trabalho espetacular em 2010 ao pegar um time ameaçado de rebaixamento e levá-lo à Libertadores. Este ano conseguiu chegar ao vice-campeonato, mesmo tendo jornadas não tão felizes ao longo da competição. Mas os resultados frios são indiscutíveis. Por esta razão, e considerando também a vontade do grupo, penso que sua manutenção seria uma escolha sensata, desde que ele aceite adequar-se à realidade financeira do clube. A única alternativa indiscutível para substituí-lo neste momento seria Tite, que já disse querer um período de descanso até a Copa do Mundo. Qualquer outro nome seria uma aposta, algo complicado de fazer em ano de Libertadores.

Goleiro: Dida está fora e Grohe deve finalmente assumir a titularidade. Gostei da atuação do velho baiano no ano que passou, mas sua saída faz parte do ciclo e da política de realidade financeira do clube. Temos Busatto e Follmann para a reserva, apesar de que minha aposta para o futuro goleiro do Grêmio é outra. O jovem Tiago Machowski tem feito ótimas apresentações na base e tem tudo para fazer história no clube.

Zaga: Minha dupla de zagueiros para 2014 seria Rhodolfo e Gabriel. O primeiro tem de ser definitivamente adquirido pelo Grêmio, pois é um defensor que há muito tempo não tínhamos. O segundo sofreu com uma lesão grave e deve ter seu empréstimo renovado, a fim de verificar sua total recuperação. Afora estes, temos ainda Werley, Bressan e Saimon, além dos garotos Thyere e Canavesio, que têm feito boas atuações na base e podem ganhar chance. Algum outro zagueiro pode desembarcar, mas ainda assim acredito que seja possível disputar a Libertadores com o que temos.

Laterais: Pará é quase uma unanimidade. É tecnicamente insuficiente, mas doa-se muito em campo. Dada a carência de laterais no Brasil, por incrível que pareça, consegue ser um dos melhores (ou menos piores) de sua posição. Pessoalmente, gostaria de ter um lateral melhor e deixar Pará como reserva. Mas também é complicado ter um reserva ganhando o que ele ganha. Paciência, não dá pra ganhar todas. O jovem Tinga, que inclusive atuou na seleção de base, ganhará chances neste ano. Nem cito Moisés, que considero fraquíssimo. Na lateral esquerda, Alex Telles foi eleito o melhor no país, o que só confirma o que falei a respeito da carência nesta posição. Caso venha a ser negociado, Wendell é o ficha um. Já demonstrou qualidade, mas fica a incógnita de como seria seu desempenho atuando como titular e principalmente em uma Libertadores.

Volantes: Nesta posição o Grêmio está bem servido e não necessita contratar. Temos Ramiro, Souza e Riveros, que atuaram juntos em várias partidas. Ainda temos Adriano e Matheus Biteco, que não tiveram um ano muito bom. Ainda assim, creio que não haveria necessidade de contratações para este setor, a não ser que surja um negócio de ocasião com algum nome indiscutível.

Meias: Aqui também há uma unanimidade. Maxi Rodriguez é titular absoluto. Este é um atleta que tem tudo para deixar seu nome marcado no tricolor. A tendência é que Elano deixe o clube e Zé Roberto pode ficar ou fazer companhia a ele. Sinceramente, ambos não farão falta, sendo que os recursos que seriam utilizados neles podem ser melhor aproveitados. Guilherme Biteco e Jean Deretti estão aí para a reserva. Olhando-se por este aspecto, nota-se que seria interessante a contratação de um meia de referência, que possa fazer companhia a Maxi e tenha cancha.

Ataque: E chegamos à grande incógnita. Olhando-se para trás e considerando-se somente o resultado, qualquer um mandaria todos os atacantes embora. Mas obviamente que outros fatores devem ser considerados, como os jogadores que chegarão e o sistema a ser utilizado. Vargas deve sair, restando Kleber e Barcos. Teríamos também Coelho, Mamute e Paulinho na reserva. Moreno volta, mas não se sabe qual seria seu aproveitamento. Dá pra enfrentar a Libertadores assim? Talvez sim, mas uma contratação de peso aqui poderia ser uma boa aposta. Acredito que Barcos pode redimir-se de seu ano ruim. Ninguém passa por uma fase de baixa por tanto tempo.

Por fim, sempre ressalto, principalmente para os amargos: é ruim não levantar uma taça. Lógico que qualquer um quer ser campeão. Mas a disputa da Libertadores é algo mágico. Somente quem viveu todos os anos de glória do Grêmio na competição continental sabe do que estou falando. Em alguns anos atrás tivemos alguns penetras na festa. Menos mal que pararam de frequentar este certame. Pegamos um grupo encardido, que muitos consideram ser o “grupo da morte”. Mas podem ter a certeza de que os torcedores das outras equipes estão muito mais apavorados com a possibilidade de enfrentar o Grêmio. Em 2014 a Arena vai rugir. Os times que entrarão para jogar contra o Grêmio terão de encarar a torcida e falar a célebre frase proferida pelos gladiadores, “Ave Caesar morituri te salutant” (Salve, César, aqueles que morrerão te saúdam). Pois neste grupo da morte, apenas um é imortal.

Saudações Imortais