3 de agosto de 2014

Avalanche Tricolor: os embalos de sábado à noite


por Milton Jung

Vitória 2 x 1 Grêmio
Brasileiro – Salvador

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Convenhamos, nove da noite de um sábado, não é hora de jogar bola. Se disser lá em casa que vou bater uma bolinha com os colegas no sábado à noite, na melhor das hipóteses me mandam dormir no sofá. Na agenda oficial das boas relações familiares, é obrigatório compromisso com a mulher e os filhos (apesar de que estes a medida que crescem, dão graças à Deus que você não os convida para o que se chama – ao menos no meu tempo, chamava-se – programa de índio). Todos sentados em torno de uma boa pizza, talvez um cineminha, quem sabe à visita na casa de amigos para os quais você nunca tem tempo ou, outra opção, abrir a sua casa para esses mesmos amigos. Qualquer um desses programas atende às expectativas da turma. Agora, jogar futebol? No sábado à noite? Só para os caras-de-pau, descasados ou desiludidos da vida.

Todo esse introdutório para ver se consigo explicar o fato de tanta gente reunida no nosso time, sábado à noite, em Salvador, não conseguir jogar o futebol que há tanto tempo esperamos. Havia uns garotos na lateral, no meio de campo e depois no ataque que pareciam estar com a cabeça na balada da qual tiveram de abrir mão para jogar bola. Uns mais velhos até se esforçaram no início, talvez imaginado que resolvendo a fatura de cara o jogo se encerraria mais cedo e eles poderiam voltar para casa para abraçar as esposas. Ninguém parecia muito convencido de que a coisa mais importante que tinham a fazer naquele momento era disputar uma partida de futebol. Até o juiz, diante da quantidade de erros que cometeu, parecia compartilhar do mesmo sentimento.

De minha parte, foi difícil ter de convencer a família a ficar em casa no sábado e jantar um pouco mais cedo para que eu estivesse de prontidão, diante da televisão, às nove da noite, e depois assistir a mais um resultado frustrante do Grêmio. Cheguei a imaginar que a mudança de técnico geraria aquela animação extra que faz os jogadores se desdobrarem em campo, a medida que se sentem ameaçados de perder a vaga, tentando provar ao novo comandante que os maus resultados não tinham nada a ver com ele. O gol marcado no primeiro tempo mais uma vez iludiu nossa esperança que foi sendo dilapidada a cada ataque que desperdiçávamos. As bolas que chutávamos para fora pareciam avisar que seria alto o preço a ser cobrado mais adiante. Não precisamos esperar muita bola rolando no segundo tempo para essa realidade se concretizar, infelizmente.

Como sou um torcedor eternamente otimista, não será o mau resultado na noite de sábado que me impedirá de acreditar na recuperação, a começar pelo fato de que entre mortos e feridos, nesta rodada, sobraram todos. Nossos principais adversários estão a algumas vitórias seguidas de distância e uma boa sequência a partir de agora já nos coloca de volta na disputa do título. Claro que para tanto precisaremos do olhar clínico e das palavras mobilizadoras de Luis Felipe Scolari que começa, nesta semana, a trabalhar com o time. Terá de encaixar as peças nos lugares certos, reestruturar estrategicamente o time e dar uma boa dose de confiança a cada um desses jogadores. Fazer destes que aí estão um time de vencedores. A tarefa não será nada fácil, nem tanto pelas características técnicas, pois temos jogadores qualificados, mas, porque, além da insegurança, o primeiro desafio pode ser definitivo. Que Felipão traga de volta, já na próxima tarde de domingo, a alegria dos embalos de sábado à noite.