13 de dezembro de 2014

A nova realidade do futebol brasileiro

A festa estava ótima. Agora vem a ressaca...!!!!!

Definitivamente, acabou a farra!
Os tempos de pagar salários estratosféricos para jogadores de futebol, querendo competir com a Europa, estão chegando ao fim. Finalmente a sangria está sendo estancada. Já tínhamos passado do ponto. Essa gastança desenfreada não poderia se sustentar por muito tempo. Tudo está indo para o seu lugar, graças à Deus! A partir de agora, quem tiver juízo e responsabilidade tem a obrigação de ajustar suas contas.

É pau...
é pedra...
é o fim do caminho!

Fim do caminho de pagar muito para quem pouco ou nada joga.
Fim do caminho de achar que vivemos em uma realidade dourada, de muito luxo e dinheiro jorrando de cascatas cravejadas de diamantes. Parar de agir como sheiques árabes que nadam em piscinas cheias de notas de dólar. Definitivamente, os clubes brasileiros terão de se ajustar à realidade em que vivem. Gastar de acordo com a sua arrecadação, do mesmo jeito que faz um trabalhador que lida com seu orçamento doméstico ou um empresário que tem deveres a cumprir.
Aqui não existem sheiques e nem mecenas dispostos a bancar custos sem retorno. Hoje, os investidores estão debandando em massa.

De outro lado, está vindo aí - já tramitando no Congresso Nacional - a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, com duras sanções aos clubes e dirigentes que extrapolarem na gastança. A previsão é de que ela seja votada em fevereiro de 2015.

Alguns dos principais pontos que a nova lei prevê são:
 - o compromisso de pagar os atrasados e também os tributos correntes e punições para os que não paguem;
- manter salários em dia e praticar normas de fair play financeiro;
- em caso de não honrar os pagamentos, os clubes serão punidos com rebaixamento e proibição de participar em determinadas competições;
- havendo gestão temerária, os dirigentes do clube seriam penalizados cível e criminalmente, inclusive com a utilização de seus patrimônios pessoais.

Então, o futebol brasileiro, a partir de 2015, ingressa em uma nova fase.  A expressão da moda será "ajustar as contas". Ou seja, a partir de agora, fazer mais e melhor , porém com menos.  O sonho dourado não passou de um sopro de uma noite de verão. E quem tiver juízo, que se aprume.

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Para complementar este post,  reproduzo abaixo as colunas do jornalista Rodrigo Mattos do site Uol. Ele mostra como e porquê os clubes terão de viver outra realidade a partir do ano que vem. Assim, dá para entender muito bem o tamanho da encrenca.

Bolha estourou: clubes entram em 2015 sem dinheiro para contratações

Após quatro anos de farra de gastos com o futebol, os clubes brasileiros sofrem uma asfixia financeira para 2015 com fuga de patrocinadores e investidores. Ao mesmo tempo, têm de renegociar suas dívidas fiscais e passar a pagá-las de verdade. Neste cenário, cartolas admitem que o ano será de recessão e vão tirar o pé nas negociações de salários de contratações. Essa é a primeira de uma série de três matérias sobre a crise no setor.

De 2010 a 2013, os gastos dos 24 clubes da elite do Brasil com futebol saltaram de R$ 1,3 bilhão para R$ 2,3 bilhões, segundo estudo do consultor Amir Somoggi. As receitas cresceram com a mesma força no início do período, mas se estagnaram nos últimos dois anos e ficaram em R$ 3,1 bilhões (lembre-se os times têm outros custos).
Esse cenário se acentuou com a redução das receitas em 2014 por conta da concorrência da Copa. Resultado: os clubes gastavam o que não tinham e acumularam déficit durante o ano.
Agora, são duas as principais causas para a crise são a falta de patrocínios e a nova regra da Fifa que proíbe parceiros nos direitos de jogadores. Para 2015, os únicos dois patrocinadores que sobraram são a Caixa Econômica e o Banrisul (Inter e Grêmio): Cruzeiro, Atlético-MG perderam o BMG, a Unimed encerrou sua longa parceria com Fluminense. A maioria dos times tem sua camisa sem nada.
“O BMG saiu. A Caixa sabemos que não é marketing, tem outros motivos, e pode sair. Teremos camisas limpas neste ano. Vivemos um pico de preços de patrocínios em 2008 e 2009. Depois, os preços têm caído. Mas mesmo com preço baixo, tem que ser muito criativo para conseguir'', afirmou o diretor de marketing do São Paulo, Ruy Barbosa, que afirma ter esperança de obter um parceiro para o uniforme de seu time.

Outro impacto foi a regra da Fifa para proibir os investidores em direitos de jogadores. O mercado reagiu e quem botava dinheiro diminuiu ou fechou o bolso de vez.
“Será um ano muito ruim, muito difícil. O cenário brasileiro não é bom, e os investidores já tiraram o pé. Já estamos tendo o impacto. O futebol brasileiro estava fora da realidade. Não dava para trazer jogador da Europa e pagar mais do que eles ganhavam lá'', observou o diretor de futebol do Atlético-MG, Eduardo Maluf. Campeão da Copa do Brasil, o time pretende manter o patamar da folha salarial, sem aumentos, mas corre o risco de perder Diego Tardelli.

Outra questão foi o fato de o governo federal ter intensificado a fiscalização sobre os clubes de futebol, o que resultou em ações e execuções fiscais por dívidas como a ocorrida no Corinthians. O clube teve de entrar no Refis (programa de refinanciamento fiscal) e paga R$ 5 milhões por mês até o final do ano, valor que vai cair para R$ 500 mil em 2015.
“Será um ano em compassado de espera. Terá de fazer ajustes. Os clubes têm folhas razoáveis e não dá para reduzir contratos então será aos poucos. Haverá uma maior atenção na gestão'', analisou o diretor financeiro do Corinthians, Raul Corrêa e Silva.
Seu clube fez proposta milionária de US$ 5 milhões para manter Paolo Guerrero em descompasso com o restante do mercado. É a diretoria de futebol que toca essa negociação. O clube tem outros jogadores que não têm atuado e recebem como Pato e Sheik.

A estratégia de conter despesas dentro do que há disponível nas receitas, além de quitar dívidas e impostos, foi a adotada pelo Flamengo nos últimos dois anos.
“Estávamos na contramão, como mostrou um estudo, porque estávamos muito endividados. Mas a tendência é que outros clubes adotem essa política de responsabilidade. O Botafogo já mudou o discurso'', afirmou o presidente rubro-negro, Eduardo Bandeira de Mello. “Tenho ouvido os meus colegas muito preocupados.''
Ele enxerga um ano de transição para o seu clube, ainda apertado, mas melhor do que os outros dois anos anteriores, uma análise oposta aos outros times. Tanto que fez algumas propostas de compra de jogadores até € 4 milhões Isso porque não vê seu patrocínio ameaçado e haverá uma redução do valor pago no Refis.

Mas já está claro que ninguém vai sonhar com um “Pato'' ou outros delírios dos anos anteriores. Quem contratar será parcelado e talvez com a ajuda de um investidor que ainda confie no mercado.


Crise no futebol brasileiro já reduz salários de jogadores em negociações



Um jogador de renome já planejava a saída do Fluminense quando se desenhava o rompimento com a Unimed. Foi ao mercado se oferecendo por salário similar ao que recebia no tricolor. Ninguém topou. Abaixou o valor, mas ainda assim não fechou. Nenhum clube aceitava pagar mais de R$ 300 mil, nem quando a diferença era pequena. O atleta ainda está sem time.

A história ocorrida nestes últimos meses de 2014, cujo protagonista não é revelado a pedido da fonte, é simbólica do novo momento do futebol brasileiro. Em meio à crise econômica, os salários de jogadores têm caído de forma significativa em renovações e novas contratações. Foi o que o blog ouviu de diversos participantes do mercado, entre empresários e clubes.
Essa é a segunda matéria sobre os problemas financeiros do setor, em continuidade à anterior que mostrou o estouro da bolha do futebol com a asfixia de receitas dos clubes pela falta de patrocínios e parceiros.

Até 2013 era fácil ter dois ou três atletas com vencimentos de R$ 500 mil em um time, mas agora só exceções receberão acima de R$ 300 mil. Pagar em dia, ou pelo menos atrasar pouco, virou trunfo após séries de calotes durante o ano de 2014. E uma debandada de jogadores pode deixar o Brasil para mercados mais atrativos.
“Estou sentido que cada renovação está sendo difícil. Essa proibição de investidor da Fifa deu uma segurada no mercado. O salário vai cair e não vai ter quem investir. Não vejo com bons olhos o que está acontecendo'', contou Roberto Monteiro, representante do grupo DIS, que é procurador de jogadores e tem direitos sobre alguns deles.
“Varia bastante de contrato para contrato. Quem estiver livre até pode negociar mais. Mas o Brasil vai começar a perder jogador para o exterior. Muitos vão voltar para a Europa. O fluxo para o exterior vai aumentar. Eu mesmo estou saindo para Europa para ver a negociação de dois atletas (do Brasil)'', contou o empresário Marcelo Robalinho, da empresa Think Ball.
“Toda negociação tem um orçamento, o pagamento dos direitos, os salários e as comissões. Se o clube não tem ajuda nos direitos, isso vai impactar o salário'', analisou o empresário e advogado Marcos Motta, que vê os clubes bem cautelosos nos acertos. “Pagar em dia será um grande diferencial diante dos atrasos que ocorreram no ano.''

Dos cartolas, o blog ouviu que, nas negociações iniciais, os jogadores continuavam a pedir os mesmos valores do final do ano passado. Mas sofreram seguidas recusas e, aos poucos, têm abaixado as requisições. Até os dirigentes admitem que os últimos anos formaram um período de valores salariais fora da realidade do país.Representantes do Bom Senso FC, grupo que reúne jogadores, também já verificaram a mudança no mercado com quedas de vencimentos. Não há nenhum levantamento oficial, mas a percepção do grupo é que se acentuaram os casos de atrasos durante 2014. Na dureza que se espera para o próximo ano, é hora de apertar os cintos para todos.