3 de maio de 2015

A realidade paralela

* Texto de Jonas Bernardes Silveira

Todo ano é a mesma coisa. Não vou me dar ao trabalho de olhar os lances dos anos que passaram, mas quem gosta de sofrer pode pesquisar. Não adianta olhar vídeos de melhores momentos, pois eles são omitidos desses vídeos. Olhem no próprio blog, nos textos pós-jogo e nos comentários. Apenas a título de exemplo, me recordo de Paulão vestindo a bola como relógio de pulso e da cama-de-gato do Caneludo contra o Rodolfo Ruim. Dessa vez tivemos a expulsão direta do Rhodolfo Bom e amarelo em lance igual de Valdívia, que já escapou de ser expulso no jogo anterior, ao pisar em Matías, sem bola. O mesmo atleta cavou expulsão de Geromel, em lance que tinha falta em Douglas na origem e cartão amarelo mandrake. Além disso, inúmeras faltas mandrakes, invertidas, escanteios sonegados... teve de tudo um pouco.

O Ruralito tem dono, a hierarquia da Entidade Administrativa da competição é clara e notória. Na primeira fase, em partidas contra o São Paulo, o Brasil de Pelotas, e no Gre-nal, no qual impedimento inexistente foi marcado em Mamute; foram inúmeros os lances duvidosos marcados, ou mesmo evidentemente invertidos. Daí nasceu a ordem das partidas na final. Foi parida pelo status quo.

O jogo contra o Cruzeiro foi patético. A arbitragem virou pro Inter, com pênaltis inexistentes, inventando uma regra que não existe. Na final, como que em homenagem, Vuaden marca mão de Éverton em lance no qual o braço do jogador está junto ao corpo e a bola é diretamente jogada contra o jogador por Valdívia, à curta distância. Coisa patética.

Todo ano tomamos pedras no Beira Rio, tem brete e porta meio fechada, torcida sufocada, sangrando, hostilidade, spray de pimenta... “Tomamos”, digo, por fazer parte da torcida, por que não piso naquele lugar. Nunca pisei, nunca pisarei. Não financio certas coisas, nem valorizo. Quando o Inter será punido por qualquer dessas coisas? Quando o Inter será punido por alguma coisa? A imprensa vai lembrar apenas da confusão na torcida do Grêmio, naturalmente.

Mas a diferença, com todo esse favorecimento, é um gol. E teve pressão no final...

Não me digam agora que vão fazer “terra arrasada”. É bem claro o que o Grêmio pode e deve melhorar. Douglas não tem perna, Wallace é muito titular, Éverton precisa aparecer mais. De modo geral, Felipão escalou os cascudos e tomou dois gols, e a cada veterano que deixava a equipe para entrada de um garoto, o Grêmio tinha alguma melhora. É emblemático o lance no primeiro tempo no qual Luan pega uma bola no nosso campo, que a zaga tirou, corre até a intermediária, onde já estava Douglas, e segue avançando. Douglas não se adianta com relação à Luan, ele segue trotando ao lado do garoto, recebe a bola e dá um toque pra Giuliano, que dá sequência na jogada tocando pra Luan, que dentro da área adversária bate entre as pernas do marcador e a bola passa perto da trave direita do Inter. Douglas começou e terminou esse lance na intermediária, Luan cruzou o campo inteiro correndo. Pouco depois, Luan abre uma bola pra Douglas, ela vinha pra perna esquerda do jogador, que em 2008 teria emendado pra rede. Douglas viu a bola passar, só a alcançou na linha lateral. Éverton, Mamute e Lincoln estavam sentados no banco, assistindo isso.

O Grêmio tem seus erros, um dos quais, em minha opinião, é usar os titulares nessa competição e não arrumar coisa melhor pra fazer entre Fevereiro e Maio. Não odeio o Campeonato Gaúcho, odeio apenas o que ele se tornou. Gostaria de ver o Grêmio agir para recuperar a competição, nem que tenha que fazer de conta que ela não exista por alguns anos, até que nossa falta faça a diferença do ponto de vista econômico.

Gostaria de ver o Grêmio com mais garotos em campo. Não me importo com essa derrota, pois tenho olhos pra ver o que acontece e calma pra contextualizar. Só temo pelos possíveis efeitos.

Contratar mais atletas veteranos, visto que estamos sem dinheiro, é um risco. Esses jogadores, alguns dos quais não poderiam nem fardar no Imortal Tricolor, ganharão vagas como titular no famoso carteiraço. É sempre assim. Se vai contratar veterano, que seja um centroavante consagrado e/ou um jovem lateral direito. Se não é possível fazer tais negócios, que Mamute seja titular e Raul ganhe a oportunidade o quanto antes.

Não adianta avaliar o Grêmio pelo que foi visto nesse campeonato. O Inter comemora um pentacampeonato, mas nos quatro anos anteriores ficou atrás do Grêmio no Brasileirão em duas oportunidades. É como se essa hegemonia fosse algo fabricado, um “100%” que quando é testado no campeonato nacional acaba se tornando “50%”. Nesse ano será o tira-teima.

O torcedor tem direito de reclamar que o time não teve uma vitória épica, contra tudo e contra todos. Só precisa ter noção de que é disso que está reclamando, não estamos falando de um resultado vexatório, não é real o que será veiculado na imprensa. Faz parte da realidade paralela.