2 de maio de 2015

Daniel Matador - Como se fosse a primeira vez



Caros

No dia 19 de julho de 1987 o Grêmio, com Luís Felipe Scolari no comando do time, bateu os ribeirinhos por 3 a 2 dentro do Estádio Olímpico e conquistou o título gaúcho daquele ano. Lima abriu o placar para o tricolor e também marcou o segundo gol, com Jorge Veras fazendo o terceiro, sob olhar estupefato do técnico red da época, Ênio Andrade, que conseguiu com que seu time tentasse uma reação no segundo tempo marcando dois gols. Que de nada adiantaram, pois o Grêmio venceu o jogo e sagrou-se tricampeão gaúcho naquele ano. Era a primeira vez que Felipão erguia a taça do campeonato regional pelo tricolor.

Em 1987 o Grêmio conquistava o tricampeonato gaúcho, com Felipão no comando.

No dia 13 de agosto de 1995 o Grêmio, tendo Luís Felipe Scolari na casamata, bateu o pessoal da beira do lago no Estádio Olímpico Monumental e conquistou o Campeonato Gaúcho daquele que foi um dos maiores anos da história do tricolor. O centroavante Nildo, desconhecido cearense que havia sido trazido por Felipão e tornou-se artilheiro por aqui, foi o herói daquela conquista, tendo marcado nas duas partidas finais. No primeiro jogo, disputado no remendão (que nem remendado era naquela época), Nildo balançou as redes e o “craque” red da época, Mazinho Loyola, garantiu o empate para a galera da beira da sanga. No jogo da volta, com o Olímpico lotado, Nildo recebeu a bola de costas para o gol, girou e abriu o placar. Zé Alcino, que na época penava em um clube que vivia uma fase de muitos anos sem grandes conquistas e depois teve sua redenção ao vir jogar no Grêmio, empatou o jogo. Só que não houve sequer tempo para comemoração, pois um minuto depois Nildo deu uma assistência perfeita para Carlos Miguel marcar e decretar a vitória e o título gremista daquele ano. O grupo era formado por uma mescla de alguns titulares e vários reservas, entre eles o goleiro Sílvio, o lateral Marco Antônio, o zagueiro Luciano e vários outros, naquele histórico time que ficou conhecido como Banguzinho.

Em 1995, Felipão comandava o mítico Banguzinho na conquista do campeonato gaúcho.

No dia 30 de junho de 1996 o tricolor, novamente tendo Luís Felipe Scolari no comando, bateu o segundo melhor clube do RS na época, o Juventude, dentro do Olímpico e sagrou-se bicampeão do ruralito. No primeiro jogo, disputado no Alfredo Jaconi, o Grêmio meteu 3 gols na turma da polenta, abrindo o placar com um golaço de falta de Goiano e ampliando com dois tentos do maior centroavante que já vi vestir a camisa tricolor, o mito Jardel. No jogo da volta, uma goleada por 4 gols a zero, com aquele que viria a ser o herói do título brasileiro daquele ano, Aílton, abrindo o placar com um belo gol. Jardel ampliou após marcar aquele que provavelmente é o seu mais belo gol com a camisa gremista, um chute de voleio após cobrança de escanteio de Arce que acabou morrendo no ângulo. O mesmo Jardel teve a sina dos goleadores após um chute de Paulo Nunes rebater nele sem querer e anotar o terceiro gol. E a pá de cal foi jogada em um lance que tornou-se emblemático naquela época: Paulo Nunes escapando pela ponta (neste caso, pela esquerda) e cruzando para Jardel marcar de cabeça. Já era o terceiro título regional que Felipão conquistava pelo Grêmio.

Felipão conquistava em 1996 seu terceiro título gaúcho com o Grêmio.

Em 2004, o diretor Peter Seagal uniu-se ao ator Adam Sandler para fazer um dos filmes com enredo mais interessante dos últimos tempos. “Como se fosse a primeira vez” narra a história de Lucy, uma moça interpretada por Drew Barrymore, a qual é portadora da Síndrome de Goldfield, uma forma fictícia de amnésia em que os eventos de cada dia desaparecem da memória durante a noite. Sempre que acorda, todos os dias são sempre os mesmos e ela esquece de tudo que se passou no dia anterior. Sandler interpreta Henry, um veterinário que apaixona-se pela moça mas que, por conta justamente do distúrbio, acaba tendo de conquistá-la diariamente, pois ela esquece que o conheceu tão logo acorda. Só quem possui uma paixão muito grande poderia fazer isso repetidas vezes.

Pois paixão pelo Grêmio é o que não falta a Luís Felipe Scolari. Tanto que o consagrado técnico aceitou voltar a seu clube do coração para fazê-lo retomar o caminho das conquistas. E tentará novamente fazer história neste domingo, 03 de maio de 2015, quase duas décadas após ter conquistado seu terceiro título regional pelo clube. Já não há mais Lima, já não há mais Nildo, já não há mais Jardel. O time é outro, os jogadores são outros, a direção é outra. Mas o técnico é o mesmo. E ele é um dos poucos que poderá incutir no espírito do grupo a importância de erguer a taça deste campeonato. Por menor que possa ser uma conquista como essa dentro do rol de títulos de Felipão e mais ainda do próprio Grêmio. O que está em jogo é a recuperação anímica de um caminho de vitórias que deve começar a ser sedimentado para as novas gerações de torcedores.

  
Muitos destes torcedores não viram as conquistas anteriores do Grêmio e mesmo de Felipão. Muitos dos jogadores que hoje vestem o manto tricolor também não as acompanharam, apesar de que possuem a missão de honrar esta história neste domingo. Mas uma coisa permanece a mesma: Felipão na casamata e sua sempre presente vontade de vencer, aliada à indiscutível paixão que possui por seu clube. Para ele, por mais terras que tenha percorrido e por mais títulos grandiosos que possa ter conquistado, este jogo é como se fosse a primeira vez.

Saudações Imortais