7 de outubro de 2015

Milton Jung: Foi um prazer conhecer Roger



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Conhecia Roger como ídolo da época em que jogava. Depois, como admirador pelo trabalho que vem realizando no comando técnico do Grêmio. A ESPN Brasil me ofereceu a oportunidade de ser apresentado pessoalmente a ele ao me convidar para entrevistá-lo no programa Bola da Vez, ancorado pelo polivalente Dan Stulbach, também meu colega de rádio CBN, e com participação do comentarista Mauro Cezar. Tanto quanto a conversa que foi ao ar na noite de terça-feira, o bate-papo que tivemos fora do programa foi enriquecedor.

Falamos muito de futebol, mas não somente sobre ele. Conversamos sobre momentos da infância e dificuldades superadas, que forjaram seu caráter e revelaram sua personalidade. Descobri um pai de família zeloso que, ao parar de jogar, entendeu que a mulher, dedicada a ele nos 17 anos em que esteve dentro de campo, merecia ter seu espaço para retomar a carreira profissional. Pai que não permite que suas meninas, com 7 e 9 anos, assistam à televisão sem que os programas sejam pré-selecionados. Nem entrega nas mãos delas computador e celular pois pretende manter o controle sobre o conteúdo que elas recebem.

Ao chegar na sala de espera da ESPN, Roger preferiu ficar em pé, posição que lhe oferecia mais conforto diante da dor provocada por três hérnias de disco que tendem a lhe incomodar, principalmente em momentos de pressão. Trata a situação com a mesma aparente calma que orienta seus jogadores no vestiário. Disse que jogar bola é sentir dor: “quando acordava sem dor, dava uma canelada no pé da cama, porque senão algo não estava normal naquele dia”.

Tentei descobrir o que o tirava do sério, pois mesmo na tensão do jogo tendia a falar baixo. No ar, falou pouco sobre o assunto. Fora dele, deixou claro que jogador desleixado o faz perder a paciência. A impressão que tive é que a falta de compromisso de alguns atletas, o remete a situações vividas no passado. Mesmo nessas situações, contudo, é capaz de refletir sobre sua reação, discute a situação com a mulher, especialista em recursos humanos; se precisar, vai ao divã, pois há anos realiza terapia. E se perceber que exagerou, pede desculpas, pois sabe que a humildade tem de ser exercida especialmente pelos que assumem posto de liderança.

Aliás, uma das coisas que me chamaram atenção na fala e comportamento de Roger foi a visão estratégica que tem da vida – do futebol, também, mas isto nós já sabíamos, haja vista o desempenho do Grêmio na competição. Planejou sua carreira, estabeleceu metas para cada dez anos, identificou o momento de parar de jogar, e determinou que se em cinco anos não fosse técnico de um grande clube brasileiro trocaria de profissão. Tem agora outras metas: ser campeão pelo Grêmio até o ano que vem, quando vê boas perspectivas para o time, isso se não conseguir diminuir a diferença para o Corinthians já este ano, no Campeonato Brasileiro. Deixará a carreira aos 55 anos de idade, mas ainda não decidiu o que fazer. A persistirem os sintomas, se transformará em gerente ou dono de algum clube de futebol.

Mostrou-se entusiasmado quando lhe entreguei um exemplar do livro “Comunicar para liderar”, que escrevi em parceria com a fonoaudióloga Leny Kyrillos. Prometeu “devorá-lo” no voo de volta a Porto Alegre, pois o uso da comunicação nas relações interpessoais, disse Roger, tem sido tema de muitas conversas entre ele a mulher, em casa. Torço para que tenha lido e aprovado. Deixou claro que dá muito valor a palavra, além de valorizar o vocabulário. Sabe que mal colocada pode causar problemas de relacionamento no grupo. Mas quando usada com precisão, é capaz de transformar comportamentos.

Uma das histórias do futebol que me chamaram atenção foi quando contou sobre a conversa que teve com Douglas para mostrar a utilidade do camisa 10 no time, inclusive na marcação, pois nosso mais talentoso jogador do elenco tem capacidade de recuperação e controle do espaço, o que provoca erros de passe do adversário. Valores que as estatísticas não mostram e parte da torcida gremista não reconhece. “O que falam e pensam do nosso trabalho, não temos controle, o que você pensa sobre você mesmo, isso você é capaz de controlar”, disse o técnico em ensinamento que vale para Douglas, para mim e para você. E, claro, serviu muito para aquela equipe que encontrou desacreditada e colocou entre os melhores times do futebol brasileiro.

Aos caros e raros leitores que deixaram sugestões de perguntas, aqui e no blog do Imortal Tricolor, antes de mais nada agradeço pela colaboração. Muitas não puderam ser feitas e algumas foram atendidas no decorrer da conversa, como a que explica o baixo aproveitamento nas cobranças de falta e escanteio. Também respondeu aos que cobram o aproveitamento de jovens talentos na equipe principal mostrando que o percentual de garotos é alto, e mais não põe no time porque entende o risco que correm ao serem expostos sem estarem devidamente amadurecidos.

A pedidos, perguntei sobre a ansiedade do torcedor na busca de títulos e quanto isso poderia atrapalhar a construção do time para o ano que vem. Prefere usar esse desejo que considera justo, por gremista que também é, como motivador para a equipe. Por falar em ser gremista, foi perguntado quem é o melhor técnico que conhece e não titubeou: Tite. Quem é o melhor time: o Grêmio. E você treinaria o Inter? Disse que tem uma relação histórica com o Grêmio e, acrescentou: me preparei para treinar grandes times (entenda como quiser essa resposta).

Foi um grande prazer, Roger!
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A entrevista pode ser vista no post logo abaixo.