26 de abril de 2016

Rei morto. Rei posto?


O Grêmio é o rei do mata-mata. O Grêmio faz tremer quem joga contra em partidas decisivas.
Verdade? Uma verdade inquestionável. Até, arrisco a dizer, 2007. Até perder as duas da final contra o Boca naquela Libertadores. Perdeu as duas mas porque foi vergonhosamente roubado no primeiro jogo. O segundo foi consequência. Não se sai para buscar um 0 x 3 impunemente. E o time daquele ano, estava perto de ser ridículo. Tuta era o centro-avante. O Tuta!
Depois disto o que o tricolor ganhou em mata-mata? Dois ou três torneios ridículos do Noveletto.

Fora isto, é um fiasco atrás do outro. Entra direção, sai direção. Vem treinador consagrado, sai treinador consagrado. Vem um ou outro jogador de maior renome. Vão embora os jogadores de maior renome e as promessas rutilantes que passaram sem vitória.

E por que do nada o Imortal passou a ser quase um mortal dos mais cordatos e amáveis com seus rivais?

Várias são as causas.

A principal, certamente, foi a deterioração econômica da instituição após o famigerado contrato com a ISL. A falência daquela empresa só não nos levou também à falência porque clubes de futebol grandes neste país não se deixa falir. O Grêmio passou a ser um clube sem a mínima condição de endividamento e, por consequência, de investimento. E futebol sem dinheiro até pode dar resultado fortuitamente. Tem o Audax em São Paulo e o Leicester na Inglaterra agora. Mas são as exceções que confirmam a regra. E, combinemos aqui, não podemos esperar que sejamos um dia a exceção.

Mas ok. Dinheiro é muito importante e ajudou nesta derrocada. Mas só ele explica?

Não. Pode ter sido fundamental, mas não é a única causa. A falta de dinheiro e o que ele pode comprar,  grandes jogadores, tem influência sim. Mas explica a eliminação frequente contra clubes menores e ainda em maior penúria, como o Juventude, por exemplo?

Claro que não.

Além de dinheiro passou a faltar atitude. Vontade de ganhar. Comprometimento. Vergonha na cara, pode-se dizer também. O clube, e por consequência o time, passou a ser conformista. Conforma-se fácil com a situação. Afinal, sempre há uma  justificativa para o fracasso.

Um dia é o cansaço. Outro dia é o erro de escalação. No outro a estratégia errada. Muitas vezes, especialmente no torneio gaúcho, é a federação e os juízes. Sim estes não merecem respeito e tem nos prejudicado muito. E prejudicado de maneira escandalosa. É só voltar 3 posts abaixo e ver o episódio do efeito suspensivo do bandido do cotovelo. Mas isto não pode mais servir de desculpa. Eles sempre prejudicaram e continuarão a prejudicar. Mas as outras causas que aparecem para o fracasso tiram até a autoridade de reclamar destes sem-vergonhas.

Eu penso e advogo que o Grêmio tem de entrar com time de juniores neste campeonato. Tem de apatifar mesmo. Mas se não faz isto. Se, equivocadamente na minha opinião, resolveu valorizar, que ganhe esta bosta. Porque não há dúvida que, em nome de jogadores, temos de longe o melhor elenco do estado. Um dos melhores do país.

Mas e daí? Por que não dá de relho nem nos times do interior e no clubinho falido do aterro?
Porque, me parece, falta vontade de ganhar. Tanto tempo perdendo e achando desculpas minou a confiança. E, pessoa ou instituição sem confiança estão sempre na beira do precipício. Um nadinha e se atiram. Nem esperam ser jogados para baixo.

Tem muita gente que sofre deste problema. Tem medo de vencer. Afinal, ser bem sucedido na vida tem consequências sérias. Um vencedor tem de pensar todo o santo dia em como continuar no topo. Um vencedor tem obrigação de continuar vencendo. E vencer, sabem todos, é muito mais difícil do que perder.

E qual a melhor maneira de se continuar no conforto do derrotado? Trabalhando para perder. Trabalhar para perder nem esforço exige. É só sentir medo e sair para jogar fora pensando em, "se Deus quiser", segurar um empate glorioso. Não adianta dizer que o campo tem dimensões iguais, que a grama é sempre verde e a bola, esta danada, é sempre a oficial, como também é na Arena. Não tentem induzir o jogador a pensar que fora de casa ele pode ter o mesmo rendimento que tem em casa. Não ousem, nem mesmo sugerir, que é melhor perder fazendo um ou dois gols pela coragem de tentar vencer do que sair derrotado por 1 ou 2 a zero pela covardia de ficar atrás esperando o tempo passar.

O perdedor não aceitará jamais esta ideia. O perdedor já entra no campo adversário tremendo como vara verde e de fralda para não correr risco de vazar o que faz nas cuecas.
Este é o Grêmio. Ou falando otimisticamente, este tem sido o Grêmio. Um time que já entra derrotado fora de casa. E que treme e se afoba quando tem de jogar em casa. Afinal de contas, se ele não tirar uma boa vantagem em casa já estará morto. E, quando tem de reverter vantagem perdida fora, quase sempre joga tremendo também porque não pode levar gol.
E não tem ninguém, ano após ano, capaz de mudar esta mentalidade.

Agora, por exemplo, as finanças estão quase sanadas, conseguiu-se manter um grupo de qualidade (tirando uma ou duas deficiências menores conhecidas), mas continua o espírito derrotado.

Maicon, o capitão do time disse uma verdade ontem. Ele disse que eles não podem levar nas costas o peso de quinze anos sem vitória. Verdade verdadeira. Então, que não levem. Que ele e os outros entrem em campo leves jogando o que sabem jogar. Que entrem com a confiança que as palavras de ordem que se vê nos filmes do vestiário parecem sugerir. Que tenham consciência que lutando e respeitando o adversário poderão ganhar. Que não tenham medo de vencer. Medo de perder é até saudável. Faz jogar mais duro, com mais atenção, com mais vontade. Mas medo de vencer é o caminho para o cadafalço.

Maicon e vários outros não tem culpa dos 15 anos sem vitória. Mas já tem culpa de um ano e meio sem vitórias. Se ficarem mais dois ou três anos perdendo e perdendo, terão estes anos de culpa ampliados. E serão também engolidos pela poeira que engole os derrotados. E terão primeiro o desprezo e depois o esquecimento da torcida. Torcida que sempre foi generosa e apaixonada pelos seus vencedores. Perguntem, ao Jardel, Paulo Nunes, Renato, Adilson, De Leon, etc., etc., etc.
É portanto uma questão de escolha. E de atitude.

Tenham vontade, e coragem de vencer e estarão para todo o sempre no coração da mais fanática e mais generosa torcida do mundo.
Continuem jogando por pontinho fora e deixando a bola queimar os pés e logo estarão troteando por outros gramados enquanto caem no esquecimento e no desprezo por aqui.
É uma simples questão de escolha. E de coragem claro.

E o que vale para os jogadores, certamente vale para a direção técnica e para a direção administrativa. Ninguém se salva nesta. Os primeiros por tremerem no campo. Os outros por não conseguirem transmitir a confiança e vontade necessária. Aliás, por muitas manifestações que se ouve parecem tremer também ao pensar nos enfrentamentos.

O Grêmio, rei do mata-mata está morto. Mas não apareceu ainda outro rei com a fama e a coragem daquele Grêmio. Terão estes jogadores, comissão técnica e direção a vontade e a coragem de recolocá-lo no lugar que sempre foi seu?
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Romildo e os 5 x 0

Eu até entendi o Romildo domingo. Mas não posso concordar com o que fez. Dizer que o Grêmio de domingo faria cinco no Rosário foi alimentar a gana do adversário.
Fez por querer?
Acredito que não. Foi uma surpreendente inabilidade em um homem que mostrou grande habilidade com as palavras e com a condução do clube.

Ou ele fez de cabeça pensada? Jogou a responsabilidade ainda maior nos ombros do Maicon e de seus comandados? Entregou um adversário mais mordido e perigoso do que seria para ver se os caras acordam?
Vai saber. Ou melhor: amanhã saberemos.