23 de novembro de 2016

Um texto para o Felipe

O jogo era Grêmio x Cruzeiro pelas semi-finais da Copa do Brasil na Arena. Combinei de encontrar minha família já dentro do estádio, pois iria ficar com um casal de amigos em um dos bares do lado de fora até a hora do jogo.
Conversamos bastante acompanhados de algumas cervejas e então fomos cada um para o seu lado. Subi a esplanada pela rampa oeste, e já bem em frente ao meu portão parei por alguns minutos. Não sei por que parei, apenas parei. Vi um torcedor com seus dois filhos escorados na parede. Começamos a conversar. Um dos meninos tinha 16, e o outro 12 anos. O de 16 pouco se envolvia na conversa. O de 12, Felipe, se balançava de um lado para o outro em pé. Eu perguntei a ele se estava nervoso. A afirmação veio apenas com a cabeça, acompanhada de uns olhos esbugalhados e tensos. Ficamos nos olhando por alguns segundos. Não conseguia dizer nada. Eu sabia qual era o seu problema. Consegui reagir e então perguntei já sabendo a resposta: "Tu nunca viu o Grêmio ganhar nada, né?". A segunda afirmação veio com um olhar ainda mais tenso, com os olhos quase marejados.

Eu entendia sua angústia, apesar de ter visto o Grêmio ganhar tudo na década de 90. O jogo em que estávamos entrando era um jogo que tínhamos uma ampla vantagem, e são os jogos que menos gosto. Não gosto de jogo jogado, ainda mais contra time grande. Eu também estava nervosa, mas não podia dizer isso para o Felipe. Ele só tem 12 anos, e eu 30.
Eu tentei olhar pra ele com tranquilidade, tentando esconder que meus olhos também estavam marejados. Então eu disse à ele que uma hora o título vem. Uma hora todo mundo ganha. As vezes demora, as vezes é rápido. Contei pra ele os títulos que vi, e disse que o Grêmio depende dele como torcedor. Ele me olhou ainda tenso, mas com esperança. Me despedi dos 3 e entrei no estádio pra encontrar minha família. Lá dentro estava meu sobrinho mais velho, o Enzo, também de 12 anos, que também nunca viu o Grêmio ganhar nada. Ao final do jogo, Enzo olhou pra mim quase como quem suplica e pediu para eu o levar na final. Naquele momento eu não sabia se conseguiria 1 ingresso, imagine 2. Eu apenas disse que faria tudo que estivesse ao meu alcance.

Hoje acontece o primeiro jogo da final. Eu não sei exatamente quem tu é, Felipe. Sei apenas teu primeiro nome e lembro nitidamente do teu rosto. Eu não sei, Felipe, se hoje inicia a conquista que a gente tanto espera. Não sei mesmo, apenas tenho fé e esperança.
Mas eu quero que lembre, Felipe, que futebol é feito de derrotas e conquistas. Que as derrotas devem nos fortalecer para que as conquistas sejam mais saborosas.
Tu verá o Grêmio ser campeão muitas vezes. Te falei isso pessoalmente, e te disse que tu lembraria de mim no teu primeiro título. Espero que seja esse, Felipe.

#VamosGrêmio