19 de julho de 2017

Futebol, um esporte hipócrita

Um dia antes de ir ao ar o Profissão Repórter que fala sobre o problema de racismo no país com o goleiro Aranha como figura principal, o técnico do co-irmão respondeu a pergunta de uma jornalista mulher da seguinte maneira após jogo do seu time: "Desculpe, eu não vou te responder com uma pergunta porque você é mulher e talvez não tenha jogado (futebol)."

Na saída de campo domingo, o goleiro Aranha deu a seguinte declaração ao ser questionado sobre a relação com a torcida: "Eles são assim aqui, é brabo o conceito de vida que eles tem aqui. Na região Sul do país é assim."
O mesmo Aranha que ao ser questionado sobre sua forma física após um jogo contra o Palmeiras pelo campeonato Paulista esse ano, respondeu: "Tem jornalista que gosta de homem, gosta de homem sarado, gosta que o cara tire a camisa, mostre o abdômen."

O goleiro Aranha sofreu injúria racial num jogo contra o Grêmio em 2014 ainda quando jogava pelo Santos. Eu poderia discutir aqui o termo 'macaco', sua história na rivalidade GreNal e muitas outras coisas. Não vou. Reviver aquele caso me dói. Por várias vezes eu fui apontada como racista pelo simples fato de ser gremista. Eu, descendente de bugre, com pai negro.
O fato é que todos os meios de comunicação deram espaço ao goleiro Aranha para classificarem o Grêmio como clube racista, sem saberem nada da história do Tricolor, generalizando da forma mais superficial. 
Nenhum veículo de comunicação ou jornalista disse que Aranha foi xenófobo ao fazer o comentário de "na região Sul do país é assim". Nenhum veículo de comunicação ou jornalista fez escândalo pelo comentário homofóbico do Aranha ao falar que alguns jornalistas gostam de ver homem sarado. 

O Grêmio pagou pelo ato de 2 ou 3 torcedores. O Grêmio se desculpou publicamente pelo ocorrido naquele jogo da Copa do Brasil em 2014. Pediu desculpas ao goleiro Aranha, que nunca foram aceitas.
Ontem, o técnico Guto Ferreira fez um comentário extremamente machista, e hoje teve espaço no principal programa da RBS para se desculpar, e a partir disso, todos bateram palmas e aceitaram suas desculpas.
Enquanto no caso Aranha deram espaço ao "agredido", no caso Guto / Kelly Costa deram espaço a "quem agrediu".

Preconceito é preconceito: racismo, homofobia, xenofobia ou qualquer outro. 
Mas no futebol? Ah, no futebol só racismo é preconceito.

E eu como mulher, seguirei ouvindo e lendo comentários ridículos por ser mulher, gostar e entender de futebol. Vou continuar ouvindo que por ser gremista e gaúcha sou racista. E os veículos de comunicação, assim como as autoridades, continuarão fechando os olhos.  
O futebol é um esporte hipócrita.